Dois homens foram presos na manhã desta quinta-feira por possível participação na morte de uma criança de dois anos, que sofreu uma parada cardiorrespiratória na semana passada após consumir um achocolatado da marca Itambé, em Cuiabá, Mato Grosso. A suspeita é de que eles estejam envolvidos no envenenamento do produto, de acordo com a Delegacia Especializada de Defesa da Criança e do Adolescente (Deddica).

Um dos detidos é Adones José Negri, de 61 anos — ele teria contaminado os achocolatados com veneno de rato. Ao ser ouvido pelos investigadores do caso, Adones teria confessado o envenenamento de seis achocolatados, de acordo com o Extra.  O outro é Deuel de Rezende Soares, de 27 anos — ele teria furtado a bebida de um estabelecimento comercial, segundo o G1. A polícia não explicou qual é a relação dos suspeitos com a família da criança.

O laudo que revelará se houve ou não envenenamento ainda não foi divulgado pela Polícia Civil. A Deddica não divulgou mais detalhes sobre as prisões nem sobre o caso. A Secretaria de Estado de Segurança Pública de Mato Grosso (Sesp-MT) dará mais informações em uma coletiva de imprensa que será realizada na tarde desta quinta-feira.

Entenda o caso

Na quinta-feira da semana passada, um menino de dois anos sofreu parada cardiorrespiratória após tomar o achocolatado Itambezinho. Segundo a mãe da criança, o filho bebeu consumiu o produto por volta das 9 horas da manhã e logo em seguida começou a passar mal, sofrendo com falta de ar, fraqueza e princípio de desmaio. Ainda segundo o relato, ela e um tio da criança também apresentaram mal-estar momentâneo após ingerir um pouco do mesmo achocolatado. O menino chegou a ser levado para a a Policlínica do Coxipó, em Cuiabá, Mato Grosso,  mas faleceu uma hora após a internação.

Nesta segunda-feira, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou a interdição cautelar de um lote do achocolatado Itambezinho, fabricado pela marca Itambé. O produto interditado foi fabricado em maio de 2016 e é válido até o mês de novembro deste ano. Em nota, a empresa afirmou que está auxiliando na apuração dos fatos e que em mais de uma década no mercado  o produto nunca apresentou problema algum do gênero.

ATUALIZAÇÃO – 

Nesta quinta-feira, Adônis José Negri, de 61 anos, confessou ter envenenado o achocolatado que provocou a morte de um menino de dois anos em Cuiabá, Mato Grosso.  O chefe de operações da Delegacia Especializada de Defesa da Criança e do Adolescente (Deddica) de Mato Grosso, Darimar Carneiro Aguiar, disse a VEJA que Deuel de Rezende Soares, de 27 anos, furtou a bebida da casa dele vendeu os produtos para o pai da criança, que acabou dando para o filho sem saber do envenenamento.

Segundo o chefe de operações do Deddica, os laudos da perícia confirmaram que a morte do menino foi provocada pela ingestão de um veneno de rato e todas as outras unidades encontradas na casa da família também estavam contaminadas. 

Após pesquisa minuciosa, os peritos descartaram a hipótese de contaminação biológica por bactéria ou fungo, decorrente do processo de fabricação, e identificar a contaminação externa através de um furo compatível com agulha de seringa na parte lateral superior de cada embalagem.

O exame pericial detectou a presença da substância Carbofurano nas cinco caixas de achocolatados de duas marcas diferentes. A substância é o princípio ativo encontrado em pesticidas utilizados para controle de pragas em lavouras, e comumente aplicado como veneno de rato.

Em seu depoimento à polícia, Adônis disse que envenenou os produtos com o veneno de ratos para matar os animais. Entretanto, Deuel afirmou ter encontrado os achocolatados na geladeira, o que desmonta a versão de Adônis.

Entenda o caso

Deuel, que era um ladrão conhecido na cidade por roubos e furtos, frequentemente invadia a residência de Adônis para furtar diversos produtos alimentares. Segundo a polícia, cansado desses furtos, Adônis tentou se vingar do ladrão. Entretanto, em vez de consumir o achocolatado, Deuel, que é usuário de drogas, o vendeu aos pais da criança por dez reais. Sem saber que o produto estava contaminado, Lázaro levou os produtos para casa, colocou na geladeira e disse à mãe do menino que o achocolatado estava apropriado para consumo.

Na manhã seguinte, Daniela, mãe da criança, provou um pouco do achocolatado antes de dar ao seu filho de dois anos. Como o gosto parecia bom e o produto estava na validade, deu para a criança tomar. “Poderia ter sido muito pior, pois a Daniela tem mais uma filha, que no dia estava com a avó. Mas se ela estivesse em casa, poderíamos ter dois óbitos de criança”, afirma Aguiar. 

Adônis foi autuado por homicídio qualificado com emprego de veneno, além de homicídio tentado já que existe um amigo da família do menino que ainda está internado em unidade hospitalar após ingerir a bebida. Deuel vai responder por furto qualificado, e o procedimento investigativo será conduzido pela Delegacia Especializada de Roubos e Furtos (Derf), de Cuiabá.

O chefe de operações afirmou também que todos os achocolatados contaminados foram recolhidos pela polícia e, portanto, não existe o risco de outras pessoas serem envenenadas.

Perícia

Em coletiva realizada nesta quinta-feira, o perito criminal Diego Viana de Andrade explicou que “unindo o histórico da morte da criança que veio a óbito muito rápido, e os sintomas apresentados, juntamente com o laudo da necropsia” foi traçada  uma linha de pesquisa sobre a classe de venenos que poderiam trazer esses efeitos, antes de detectá-los no exame.

Ainda de acordo com o perito, o conteúdo gástrico coletado no estômago da vítima era visivelmente semelhante com o achocolatado enviado para análise. “Primeiramente a substância foi encontrada no material biológico coletado no aparelho digestivo da criança e, em seguida, a mesma substância estava presente nas cinco embalagens encaminhadas à perícia. Os furos encontrados nas embalagens de achocolatados foram fundamentais para esclarecer que era um caso de contaminação criminal do produto alimentício e o laudo pericial foi definitivo para o desfecho da investigação’’, reforçou o perito.