Uma onda de morte em série, de gatos, sobretudo por envenenamento provocado por terceiros, tem assustado criadores em Adamantina. Somente ontem, o relato da internauta Andresa Marques, no grupo Adamantina | Siga Mais, no Facebook, denunciou a morte de oito animais, nas últimas horas. Entre eles, o gato de estimação que convivia com a família.
Andressa disse ao Portal Siga Mais que encontrou seu gato já morto, e sabendo da onda de crueldade, imediatamente acionou a Polícia Militar. A PM orientou que a criadora solicitasse um laudo emitido por médico veterinário, que atestasse a morte por envenenamento.
Com o laudo em mãos, Andressa procurou a Polícia Civil e realizou um boletim de ocorrência. Ela anexou o laudo do médico veterinário, à queixa, bem como uma latinha de sardinha aberta, e em seu interior restos que podem ser do veneno “chumbinho”. Provavelmente a substância tenha sido misturada à sardinha, na lata, e servida ao animal.
A criadora abordou um ponto central e que pode orientar as investigações. Ela relatou que a comercialização do veneno chumbinho é proibida. “Por que vendem?”, pergunta. “Esse será o caminho para descobrir quem comprou e envenenou nossos animais”, sinaliza. “Eu espero que investiguem a fundo, pois isso acontece há muito tempo”, completou Andressa.
Ela destacou ainda outro aspecto, e fez constar no boletim de ocorrência. Além do crime de maus tratos aos animais e o crime ambiental pela utilização e manipulação indevida do veneno, está presente, também, um atentado à vida das crianças, pois as mesmas brincam no mesmo local onde colocaram o veneno a céu aberto.
Sensibilizada com o ocorrido, Andressa relata o drama vivido em casa, com a morte do animal de estimação. “Hoje eu e minha família sentimos na pele a perda de um animal que é considerado um membro da família”, disse. “Cuidamos com tanto carinho, com acompanhamento veterinário, alimentação adequada e o amor que recebemos e retribuímos. E agora, como ficamos? À mercê. Meu coração está aos cacos!”.
Inúmeros casos por toda a cidade
De acordo com os relatos mapeados nas redes sociais, os casos se multiplicam por toda a cidade de Adamantina. Além da dor e da revolta diante de tanta crueldade e impunidade, o medo bate às portas de quem tem esses animais em casa.
A internauta Daiane Pusso mora no Parque Itamarati relatou que quatro gatos que criava foram mortos. “Isso é crime. Semana passada mataram quatro dos meus gatos com chumbinho. As pessoas não têm noção da tamanha crueldade e pecado que estão cometendo. Temos que tomar cuidado com crianças que brincam ao quintal”, publicou.
Amílcar K. Ikegame disse nas redes sociais que também é morador do Parque Itamarati. “Já envenenaram 3 gatos que eu estava dando abrigo para doá-los futuramente, pois já havia resgatado por abandono. O último conseguiu correr até minha garagem, gritando e em pouquíssimo tempo morreu nas minhas mãos”.
Angela Gustavo Nonaka mora na Vila Jamil de Lima e escreveu recentemente que mataram seu gato envenenado em um domingo e na segunda-feira envenenaram sua gata, que estava prenha, mas conseguiu salvá-la, levando rapidamente ao veterinário. “Alguém precisa colocar um basta nessa matança de gatos por toda a cidade”, desabafou.
Nas redes sociais, Cristina Santana disse ser oradora da Vila Jamil de Lima. “Aqui na Jamil de Lima foram vários. Só meu foram 4 eu nunca consegui pegar quem foi”, relatou.
Livia Maiara escreveu nas redes sociais que mora na Vila Jardim e teve duas gatas envenenadas. Uma morreu e a segunda conseguiu salvar. “É muita judiação”, definiu.
Ieda Z. Silva também se manifestou nas redes sociais. “Mataram 2 gatos meus no mesmo dia. Sei quem foi mas não posso provar. A mesma pessoa maltratava seu próprio cachorro e eu avisei que se os maus tratos continuassem eu o denunciaria. O cachorro sumiu e meus gatos também. Tenho dó de gente assim. Imagino como deve ser duro viver nas trevas de seus corações. Não evoluíram e se existir reencarnação eles vão voltar muitas vezes ainda”, desabafou.
Maria José De Vecchi relatou nas redes sociais que perdeu muitos gatos envenenados na alameda Fernão Dias, altura das vilas Jurema/Freitas. “Além da tristeza de perder animais tão queridos, o ódio de desconfiar da autoria e não conseguir provar. Será que nenhum vizinho pode ajudar a gente”, questiona.
Identificação e punição aos responsáveis
Outros relatos de internautas, nas redes sociais, cobram das autoridades a identificação dos autores e a punição aos responsáveis. “Que a justiça seja feita, que essa pessoa seja identificada e pague pelo crime”, escreveu Dulcinéia Theodoro.
“Alguém que é capaz de fazer esse tipo de atrocidade é capaz de fazer qualquer coisa, e coisas bem piores! Torcendo para que o indivíduo responsável seja identificado!”, publicou Natália Delvechio.
“Pessoas frias, capazes de qualquer atrocidade com qualquer ser vivo. Temos que ter cuidado, ficar atentos”, disse Sandra Regina Silva Freitas, nas redes sociais.
Rareska Carlos Gabriely também desabafou nas redes sociais. “Me desculpe, mas uma pessoa dessa merece o pior castigo que existe no mundo. Pena que os nossos animais não tem direito algum. Existe lei mas nunca é cumprida. Fico triste por isso que quanto mais eu conheço o ser humano sou apaixonada pelos animais”.
Crime contra os animais e a saúde pública
As intoxicações em animais de estimação são bastante comuns, sejam elas acidentais ou criminosas. O veneno mais frequente envolvido nesses casos é o chumbinho, um poderoso tóxico que é comercializado ilegalmente.
O produto não tem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Segundo especialistas, o chumbinho é feito a partir de substâncias químicas usadas na composição de agrotóxicos usados na agricultura para o controle de pragas.
Apesar de ter sua comercialização proibida no Brasil, e desviado de seu uso original, o chumbinho, pode ser encontrado facilmente no mercado, à granel, entre as lojas de produtos agropecuários.
De acordo com o G1, quem vende este tipo de veneno comete um crime contra a saúde pública, com pena que vai desde multa até três anos de prisão. A loja também pode ser fechada. Como o produto é vendido de forma clandestina, a vigilância sanitária, que fiscaliza este setor, depende de denúncias da população para poder agir. Quem compra também está cometendo uma contravenção.
O G1 mostrou uma reportagem exibida na TV TEM. Com uma câmera escondida, a equipe de reportagem da emissora encontrou várias lojas de produtos agropecuários em Sorocaba que vendem o veneno proibido.
Os registros mostram que, em algumas lojas, os comerciantes conhecem os riscos de vender o produto ilegal, que pode culminar até com o fechamento da loja. Mas com um pouco de insistência, é possível comprar a substância proibida com facilidade, ao custo de R$ 20. Assista aqui.
Reações no animal envenenado acontecem entre 5 a 10 minutos
O efeito do chumbinho em animais é bem rápido, aparecendo 5 a 10 minutos após a ingestão. Os sinais irão depender do tamanho do animal e da quantidade ingerida. Grandes quantidades podem causar morte súbita.
Os sinais de intoxicação podem ser vários: salivação (o animal começa a babar), vômitos, diarreia, convulsão, inquietação ou prostração, incoordenação, tremores, falta de ar (dispneia), hemorragia oral ou nasal, fraqueza, pupilas contraídas, etc. O veneno causa lesões nos pulmões, fígado e rins.
Um ou mais sintomas, associados ao histórico de uso de raticida chumbinho no ambiente é um alerta para levar o animal a uma clínica veterinária imediatamente.
Crimes contra animais podem ser denunciados na Delegacia Eletrônica
Queixas envolvendo maus-tratos e crimes contra animais poderão ser registradas em boletim de ocorrência, pela internet, no site da Delegacia Eletrônica de Proteção Animal do Estado de São Paulo (DEPA), criada neste ano.
A pessoa que fez a denúncia por meio da delegacia eletrônica recebe um retorno após o registro inicial da ocorrência para prestar informações complementares. Em seguida, o caso é encaminhado à delegacia de polícia local, que irá adotar as providências necessárias.
As denúncias também podem ser anônimas, sem necessidade do cidadão se identificar, se assim ele preferir. Basta notificar data, local e horário aproximado em que ocorreu o crime e identificar o autor pelo nome ou apelido, se houver.
O animal pode ser classificado por espécie (cão, gato, pássaro etc), se é adulto ou filhote. Quanto mais detalhada a denúncia melhor para a apuração policial.
A home do site da Delegacia Eletrônica de Proteção Animal explica que a DEPA é um serviço via internet à disposição da população para denúncias de crimes ocorridos no Estado de São Paulo. É necessário identificar-se para fazer a denúncia e o sigilo dos dados serão preservados se optar pela privacidade no momento do cadastro da denúncia. Segundo o site, as providências tomadas pela polícia poderão ser acompanhadas através do número de protocolo gerado após a efetivação da denúncia, juntamente com o número do CPF do denunciante informado.