A apreensão de 32 fuzis pela Polícia Militar do Rio, nesta terça-feira (2), após o confronto entre facções pelo controle na venda de drogas da comunidade de Cidade Alta, na Zona Norte, representou um prejuízo aos traficantes da ordem de R$ 1,6 milhão.

O número é estimado por investigadores da Polícia Civil do Rio, levando em conta que no mercado clandestino, um fuzil custa, em média, R$ 50 mil. Os cálculos deixam de lado as pistolas, munições e granadas apreendidas na ação.

Até a noite desta terça, enquanto ainda era elaborado o boletim de ocorrência da operação na Cidade Alta, pelo menos, 15 fuzis pertenciam à facção que invadiu a comunidade. Outras nove armas seriam da facção local.

O secretário de Segurança, Roberto Sá, informou, na entrevista coletiva sobre a operação que a Desarme, nova delegacia criada para repressão ao tráfico de armas, já iniciou o levantamento para rastrear de onde vieram os fuzis.

A polícia também pretende levantar a localização de depósitos onde essas armas são guardadas nas comunidades.

A apreensão, em uma ação que teve 45 presos e duas pessoas mortas, foi classificada por Sá como uma ação histórica da PM, pelo grande número de fuzis apreendidos em um único dia.

Baque momentâneo, dizem especialistas

Especialistas ouvidos pelo G1, entretanto, alertam que o baque para a facção que tenta invadir a Cidade Alta pode ser apenas momentâneo. Eles afirmaram ainda que não há uma política para reprimir o financiamento da facção responsável pela invasão, garantido pela venda de drogas e aluguel de outras armas.

“Essa apreensão mostra algumas coisas: uma delas que as facções estão se armando para retomar territórios perdidos diante da fragilidade da segurança pública do Rio de Janeiro. Mas essa apreensão foi um baque momentâneo pois não se atinge as estruturas que alimentam essa criminalidade”, alerta o antropólogo e consultor de segurança Robson Rodrigues, ex-chefe do Estado Maior da PM do Rio.

De acordo com o professor da Faculdade de Direito da Mackenzie, no Rio, e especialista em Segurança Pública Newton Oliveira a apreensão representa um “raio em dia de céu azul”.

“A pancada foi em uma facção. Foi válida, mas a gente percebe que é uma questão passageira porque vão tentar se organizar rápido”, analisa o professor, para quem a apreensão pareceu uma ação de “sorte, acaso, talvez visualidade e falta de acordo”.

Para o coronel Robson Rodrigues, o problema é que a facção pode iniciar uma série de ações para se recuperar rápido do prejuízo. “Uma operação criminosa que perde um número considerável de armas de uma vez pode representar uma cobrança interna ou repassar esse prejuízo para outras modalidades aumentando assim a insegurança”, comenta Rodrigues.

 

Mais de 30 fuzis foram apreendidos na Cidade Alta (Foto: Henrique Coelho/G1)

Mais de 30 fuzis foram apreendidos na Cidade Alta (Foto: Henrique Coelho/G1)

Caixinha da facção

Para participar da invasão à Cidade Alta foram recrutados criminosos de diversas comunidades do Rio. Vários dos fuzis apreendidos pela polícia tinham a inscrição “CX”, que investigadores dizem ser a identificação das armas da “caixinha”. Um percentual da arrecadação das favelas da facção seria destinado para reforço em confrontos com rivais. Assim, os traficantes que contribuem podem solicitar armas em invasões.

O secretário estadual de Segurança Pública, Roberto Sá, disse em entrevista coletiva, na tarde desta terça, que a inscrição nas armas é uma abreviatura de “Caxias”, representando favelas do município da Baixada Fluminense que são dominadas pela facção que tentou tomar a Cidade Alta.

Já o Chefe de Polícia Civil, Carlos Leba, afirmou que há investigações que tratam do empréstimo de armas entre diferentes lideranças dentro da facção.

Esforços para desmobilizar polícia

Durante a operação, nove ônibus e dois caminhões foram incendiados por criminosos – a maioria na Rodovia Washington Luiz.

Os ataques foram interpretados pelos investigadores como tentativa de desmobilizar a operação e causaram um caos no trânsito da cidade, já que os veículos queimados estavam em vias expressas, usadas por motoristas para trafegar em direção ao Centro do Rio, em horário de grande movimento. A cidade entrou em estágio de atenção às 10h50, segundo o Centro de Operações.

Devido aos ataques, motoristas tentaram voltar na contramão e passageiros de outros coletivos que passavam na região ficaram em pânico. O congestionamento na cidade, por volta das 11h, atingiu 66 quilômetros — equivalente a uma viagem entre o Rio e Maricá.