O cineasta Fernando Meirelles, diretor do filme “Ensaio Sobre a Cegueira)” (2008), baseado na obra homônima de José Saramago, disse que o mundo perde lucidez com a morte do autor hoje, aos 87 anos.
“Definitivamente, hoje o mundo se tornou ainda mais burro e cego”, ressaltou Meirelles em comunicado.
O cineasta, que manteve uma relação próxima com o escritor português durante a filmagem do longa, elogiou a qualidade dos textos de Saramago e sua capacidade de analisar os conflitos e os problemas mais comuns do ser humano.
“A lucidez naquele grau é um privilégio de poucos”, disse o cineasta, que esteve em contato com Saramago nos últimos meses para realizar um documentário sobre o escritor.
“José e Pilar” é o título do filme produzido por Meirelles e dirigido pelo português Miguel Mendes, que retrata os últimos anos da relação do Prêmio Nobel de Literatura de 1998 com sua mulher, a jornalista espanhola Pilar del Río.
“O filme é extremamente comovente. Vemos um homem brilhante que sabe que seu tempo está acabando e que sente muita pena de morrer”, comenta o cineasta.
Diretor de filmes como “Cidade de Deus” (2002) e “O Jardineiro Fiel” (2005), que denunciam a dureza existente em muitas partes deste mundo, Meirelles elogiou a crítica e o compromisso social que Saramago colocava em suas obras.
“Ele combatia as religiões com fúria, dizia que embaçavam nossa visão”, e acrescentou que o português era “um homem lógico”, que dizia que “a morte apenas é a diferença entre estar aqui e já não estar”.
Por sua vez, o presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), Marcos Vinicios Vilaça, anunciou que a instituição fará três dias de luto com a bandeira a meio mastro pela morte do escritor português.
“A morte de Saramago deixa um enorme vazio e uma grande tristeza na Academia”, lamentou Vilaça, que anunciou que a próxima sessão da ABL, no dia 24 de junho, será dedicada a lembrar a figura do único romancista ganhador do Prêmio Nobel em língua portuguesa.
Saramago foi nomeado membro correspondente da ABL em junho do ano passado por sua contribuição à difusão do português como língua literária.
Vilaça declarou que a Academia esperava que Saramago viajasse ao Brasil para celebrar a posse da Cátedra 16 da instituição, no Rio de Janeiro.
O escritor já visitou a sede da Academia Brasileira de Letras em 2008, quando realizou a apresentação mundial de seu livro “A viagem do elefante”.
Saramago, famoso por introduzir a crítica social em seus textos literários, morreu hoje em sua casa de Lanzarote (Ilhas Canárias, Espanha).