A escolha do Rio de Janeiro para sediar a Olimpíada de 2016 desagradou a muitos espanhóis que torciam por Madri. Mas não a todos.

Pelo menos 13 empresas espanholas já estão de olho na parte mais rentável da competição: preparar a infraestrutura exigida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). Estradas, estrutura de transportes e telecomunicações, sistemas de segurança, reformas e construções das instalações olímpicas que deverão estar prontas em menos de sete anos.

“Sem dúvida, para as grandes empresas espanholas, a eleição do Rio foi melhor do que teria sido Madri”, disse à BBC Brasil o Diretor do Serviço de Estudos da Bolsa de Valores de Madri, Domingo García.

“O Rio oferece mais oportunidades porque há muito mais para construir, e os empresários que já viam o Brasil como grande foco de negócios antes, agora com a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos têm uma enorme via de investimentos”, acrescentou.

Vitória ou empate

Analistas europeus acreditam que as empresas espanholas têm boas chances de sair na frente da concorrência internacional para conseguir contratos porque já estão estabelecidas no país.

A Espanha é o segundo maior investidor mundial no Brasil, atrás dos Estados Unidos, desde os anos 90. Em 1998, 2000 e 2007 chegou a ser o primeiro investidor, concentrando capital nos setores de energia, telecomunicações e financeiro.

“As empresas espanholas viram no Brasil um país em crescimento, com um potencial ilimitado muito antes dos Jogos Olímpicos. Esta relação vem amadurecendo há bastante tempo e deve dar um salto quantitativo agora”, afirmou à BBC Brasil o Diretor de Análises para a América Latina da consultora Inverseguros, Alberto Roldán.

“Eu até apostaria que muitos empresários espanhóis comemoraram a eleição do Rio com champanhe. Porque para eles esta decisão Madri x Rio (eleição do COI) significava ou vitória ou empate.”

Centenas de milhões de euros

Apenas no capítulo de infraestrutura, todas as cifras de contratos (ainda em fase de licitação) superam as centenas de milhões euros.

Pelas estimativas do COI, do governo brasileiro e do empresariado espanhol, só para prover as instalações olímpicas de conexões banda larga serão necessários investimentos de 58 bilhões de euros (cerca de R$ 170 bi).

Para a companhia espanhola de engenharia Amper, responsável pelos projetos de ampliação do metrô carioca, a escolha da sede olímpica foi “uma fantástica e esperada notícia”, respondeu à BBC Brasil a assessoria de comunicação.

Os números da empresa no Brasil justificam o entusiasmo. Em 2008, o mercado brasileiro proporcionou 31,7% do lucro total da companhia.

Comparado com o metrô de Madri, o do Rio precisa de quase tudo. O da capital espanhola, que tem 6,5 milhões de habitantes, tem 12 linhas e 293 estações. A rede carioca possui duas linhas e 33 estações para sete milhões de habitantes.

Bancos e telecomunicações

Não foi à toa que a escolha do Rio como sede olímpica teve impacto positivo na Bolsa de Valores de Madri. Os valores das companhias com investimentos no Brasil dispararam logo após a eleição do COI.

Para ao menos sete grandes companhias espanholas, o mercado brasileiro já é a segunda fonte de lucro, superada apenas pelas matrizes.

Os maiores grupos, como o Banco Santander e a Telefônica, tiveram, respectivamente, 18% e 15% do lucro de 2008 provenientes das sucursais brasileiras.

Para a espanhola OHL, que desde 2007 é a maior concessionária estrangeira de rodovias no Brasil (administrando 2.078 km de estradas) os jogos de 2016 deixam o país “na linha de prioridades absolutas”, como descreveu à BBC Brasil o Diretor Geral de Desenvolvimento de OHL Concessões, Sergio Merino.

“Não é uma questão de correr para tentar abarcar tudo, mas de segmentar e aproveitar as oportunidades de negócio. Nos últimos dois anos, 93% dos nossos investimentos foram para a América Latina, a maior parte para o mercado brasileiro.”

“O momento agora é outro e ainda mais importante. A Copa do Mundo e as Olimpíadas estão próximas e, se nos deixarem, queremos estar nesta corrida olímpica.”

Segurança

Além do setor de infraestrutura os empresários também estão de olho na polêmica questão da segurança.

A Prosegur que lucrou 350 milhões de euros no Brasil em 2008 (17% do resultado global), duplicou os investimentos em 2009, espera multiplicar a atuação no mercado nacional durante a Olimpíada.

“Estes Jogos Olímpicos podem ajudar a reforçar nossa posição no Brasil. Gostaríamos de fazer parte do sistema de segurança dos Jogos, mas também temos a intenção de chegar para ficar”, disse à BBC Brasil o Diretor de Operações, Carlos Valenciano.

Já a companhia aérea Iberia, primeira do ranking mundial em número de voos e passageiros entre a América Latina e a Europa, espera quadruplicar em 2016 a cifra de clientes que viajaram ao Rio durante os Jogos Pan-Americanos de 2007 (500 mil passageiros).

A expectativa dos empresários espanhóis com a Olimpíada brasileira é tanta que até o governo reconheceu que foi bom negócio, apesar da derrota de Madri.

“Como espanhol, a decepção é inevitável porque Madri merecia ganhar. Mas para nós esta vitória sul-americana significa muito. É um sinal de um novo tempo, uma nova ordem e é bom para nossas empresas”, disse o ministro do Fomento, José Blanco depois da eleição do COI.

“Desejamos sorte ao Rio e lhe parabenizamos. Espero estar lá para ver estes jogos. Mas uma coisa: antes vamos jogar a final da Copa e ganhar na casa deles. Vai ser outro maracanazo.”