O médico André Luiz Veloso, que fez o parto do recém-nascido que morreu no hospital municipal do Campo Limpo, zona sul de São Paulo, será investigado por lesão corporal culposa mesmo depois de o laudo da Secretaria Municipal de Saúde ter concluído que a morte da criança não foi provocada pelo bisturi utilizado no parto.
A informação foi dada nesta sexta-feira (10) pelo delegado Gilberto Ferreira, que apura o caso no 37º DP. Segundo ele, apenas o médico chefe que fez o corte da cesariana pode responder pelo crime. O médico-assistente e o resto da equipe não serão investigados.
A mãe da criança, que tem 14 anos, será a primeira a ser ouvida pelo delgado. O depoimento está marcado para as 17h de hoje. A equipe médica será convocada na segunda ou na terça-feira. “A investigação não está encerrada. Mesmo a causa mortis ter sido natural. Houve lesão corporal, e o bebê morreu. Vamos terminar de apurar como foi feito o pré-natal e a cesariana”, disse o delegado.
Ferreira afirmou, no entanto, que a lesão corporal provocada pelo bisturi foi superficial, de 2,1 cm de comprimento, parou na camada muscular e não atingiu a coluna ou os órgãos internos. “Para cortar na profundidade que precisaria [para provocar a morte da criança], teria que ser muito mais profundo”.
O bebê, segundo o laudo, morreu de prematuridade e falta de oxigenação do cérebro. O relatório médico, que foi adulterado, também está sob investigação, mas o delegado considera que a modificação na data (de 26 para 31 semanas) é de menor relevância.
O laudo do Instituto Médico Legal (IML) apontou que o bebê teria entre 26 e 32 semanas. “Não vislumbro uma razão para esta rasura. Se fosse menor que a data original, poderia ter sido uma forma de proteger os médicos, mas o tempo maior não dá para entender”, afirmou o delegado.
De acordo com Ferreira, cabe ao Conselho Regional de Medicina (CRM) apurar se o corte é aceitável dentro das práticas médicas. “Tenho visto outros casos [de cortes provocados por bisturis em partos], mas é raro e causa estardalhaço. Já vi até casos mais graves e que resultaram aceitáveis dentro da medicina.”