O ministro da Defesa, Nelson Jobim, admitiu hoje (7) que “setores minoritários” das Forças Armadas ainda resistem às iniciativas para esclarecer as mortes e os desaparecimentos políticos ocorridos durante o regime militar (1964-1985). Segundo Jobim, os militares que se opõem a projetos como a criação da Comissão da Verdade estão na reserva e integram o mesmo grupo que discorda das recentes mudanças no âmbito da Defesa, mas são em número menor do que aqueles favoráveis à apuração dos fatos.
“Não há nenhuma dificuldade em relação às Forças Armadas [quanto à apuração dos crimes contra os direitos humanos]. Eventuais bolsões de resistência sobre a memória podem se encontrar em algum setores muito minoritários. Alguns militares mais tradicionalistas da reserva não veem com bons olhos as mudanças que fizemos no Ministério da Defesa, como a subordinação das Forças Armadas ao poder civil democrático”, disse Jobim logo após participar do programa de rádio Bom Dia, Ministro, produzido pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, em parceria com a EBC Serviços.
Jobim lembrou que a proposta de criação da comissão precisa ser aprovada no Congresso. “Esse projeto teve o absoluto apoio do ministério e meu. Houve uma divergência inicial com o então secretário de Direitos Humanos [Paulo Vannuchi] sobre a natureza do projeto, que era unilateral, prevendo a análise da memória histórica somente por um lado enquanto nós queríamos que a análise fosse completa. Não há nenhuma divergência com a atual secretária Maria do Rosário”, disse, durante a entrevista a emissoras de rádio.
Jobim voltou a afirmar que o país necessita conhecer a verdade histórica dos fatos, mas que isso não deve ter caráter punitivo. “O conhecimento da verdade tem todo o apoio do ministro e de toda a estrutura do Ministério da Defesa, mas, considerando a decisão do Supremo Tribunal Federal [STF] em relação à Lei da Anistia, o que não podemos ter é a pretensão da retaliação ao passado, ou seja, tentar instaurar processos criminais que possam atingir os eventuais envolvidos, quer os que estavam ao lado do Exército, quer os que estavam do lado dos grupos subversivos que se rebelavam contra a ditadura militar”, disse. “O importante é que esse conhecimento sirva para construção do futuro e não meramente para retaliar o passado”, reforçou.
Perguntado sobre as declarações do novo ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general do Exército José Elito Siqueira, Jobim disse que o assunto está “absolutamente superado”. Elito foi chefe do Estado-Maior do Ministério da Defesa antes de assumir o GSI, na última segunda-feira (3). Na transmissão de cargo, ao falar sobre a possibilidade de se criar a Comissão da Verdade, ele afirmou que o Brasil não deve ficar olhando para trás nem se envergonhar ou se vangloriar pelos seus desaparecidos políticos.
Durante a entrevista às rádios, Jobim confirmou ter convidado o ex-deputado federal petista José Genoino para o cargo de seu assessor. “Eu havia conversado com o Genoino no ano passado. Ele me disse que iria examinar o assunto, mas ainda não me deu uma resposta. Entendo que ele pode trazer uma grande colaboração ao Ministério da Defesa e sua presença seria importante porque ele conhece o tema e seria de extraordinária importância para mim inclusive tendo em vista sua capacidade de circular e de dialogar”, afirmou Jobim, acrescentando que desde a época da Assembleia Constituinte, em 1987, Genoino, já demonstrava o grande conhecimento sobre os temas da área de defesa nacional.
Genoino fez parte da resistência à ditadura militar, participando da luta armada durante a década de 1970, tendo sido preso e torturado. Chegou a ser cotado para assumir o Ministério da Defesa assim que o PT chegou ao poder, em 2002. Citado no caso do mensalão, é primeiro suplente na bancada do PT na Câmara dos Deputados.
Trechos da entrevista com o ministro Nelson Jobim serão exibidos na edição de hoje do programa Repórter Brasil, da TV Brasil, que vai ao ar hoje, às 21h.