O Metrô de São Paulo ganhou usuários de baixa renda entre 2001 e 2012, enquanto os mais ricos da cidade deixaram de usar o sistema.
A proporção atual, mostra pesquisa inédita do perfil do usuário do Metrô de 2012, é de quase oito passageiros entre dez que ganham até quatro salários mínimos. Em 2001, havia quase cinco pessoas entre dez na mesma faixa.
Já os mais ricos estão sumindo dos trens. Se há mais de dez anos, 23% de usuários que ganhavam mais de oito salários mínimos entravam nas linhas do metrô, hoje, 7% da amostra registrada na pesquisa se enquadra na mesma faixa salarial.
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Com o crescimento de renda da população, diz Cecília Guedes, chefe do departamento de relações com o cliente da companhia, mais pessoas de classes sociais que antes não usavam os trens estão agora no sistema.
Ela frisa também outra mudança importante, detectada pelo levantamento.
“O aumento da rede do Metrô tem feito com que pessoas de outras cidades da região metropolitana optem mais pelo transporte sobre trilhos”, afirma Guedes. Um dos indicadores que mostram essa tendência é o aumento do tempo de viagem de quem pega o metrô.
Considerando toda a viagem do passageiro, desde a sua casa até o seu destino final, aumentaram as viagens que duram mais de 1h30.
Em 2001, 18% dos entrevistados demoravam mais de 90 minutos para chegar, principalmente ao trabalho, de transporte público, incluindo os trilhos. Em 2012, foram 25% dos passageiros.
A pesquisa foi feita com 7.320 pessoas. Nenhuma entrevista ocorreu dentro das estações da linha 4-amarela do sistema, que é administrada por outra empresa.
O crescimento recorde do Metrô de São Paulo, que transportou 877.171 pessoas em 2012 (mais de 20% em relação ao ano anterior), diminuiu o conforto dos usuários.
Por causa da lotação, ainda mais nos horários de pico, parte das pessoas está recorrendo ao carro.
“O metrô era bom porque fugia do trânsito, mas pela demora no embarque, lentidão e pelo desconforto, não vale a pena”, diz Daniele Benedito, 28. Ela sai de Guarulhos (Grande SP) e vai todos os dias de carro ao trabalho, no Brooklin (zona sul).
Durante o ano passado, Daniele usou o metrô e o trem para economizar com gasolina e estacionamento.
Ela reclama da lotação e da lentidão na linha vermelha. “Demora muito para conseguir entrar, todos os vagões vêm lotados. Você tem que empurrar todo mundo e torcer para a porta conseguir fechar.”
Otávio Laranjeiras, 31, publicitário, utilizou por cinco meses as linhas verde e amarela para chegar ao trabalho e decidiu voltar a utilizar o carro. Ele diz não se sentir “respeitado como cidadão” quando anda de metrô.
Gabrielle Picholari, 26, tentou o sistema por dois meses. Desistiu devido ao “desrespeito que as mulheres sofrem” nos vagões.