Jovens que participaram do protesto contra a tarifa do transporte público no Rio de Janeiro, nesta quinta-feira (20), ficaram encurralados por pelotões da Polícia Militar em bares da Lapa e de outros pontos do centro da capital fluminense.

Segundo o estudante Lucas Pereira, que ficou preso em um restaurante por cerca de 1h30, agentes da Tropa de Choque e do Bope lançaram bombas de gás lacrimogêneo “a esmo”, inclusive em ambientes fechados.

A reportagem do UOL flagrou o momento em que estudantes que gritavam palavras de ordem foram surpreendidos com três granadas de efeito moral, na avenida Mem de Sá, na Lapa. Mesmo com a situação aparentemente controlada, explosões ainda são ouvidas na região.

“Tudo começou quando o Bope e o Choque, do nada, passaram na Mem de Sá tacando bombas. As pessoas que estavam nos bares começaram a vaiar e a jogar garrafas em direção aos policiais. Os bares fecharam com as pessoas lá dentro, mas eles continuaram tacando bombas. Havia muita garrafa de cerveja quebrada no chão”, disse Pereira.

O confronto na avenida Mem de Sá teve início por volta de 22h, na versão do estudante. Os jovens, segundo ele, não estavam mais protestando, e sim reunidos nos diversos bares ao longo da via.

Pelo menos dois blindados do Bope, veículos conhecidos popularmente pela alcunha de “caveirão””, circulavam pelas ruas da Lapa, o que assustou a portuguesa Andreia Ferreira, residente no Brasil há quatro meses. Ela participou pela primeira vez da onda de protestos gerada a partir da insatisfação popular com o aumento da tarifa de ônibus.

“Pareciam tanques de guerra. Achei demasiada a ação da polícia, parecia que eles queriam assustar as pessoas com esses blindados. Acho que lá em Portugal a gente não tem nem tanque. Não era para tanto”, disse Andreia, levada à 5ª DP (Gomes Freire) porque um amigo brasileiro que a acompanhava na passeata foi detido por carregar uma placa de sinalização de trânsito.

“Fomos parados por dois policiais descaracterizados, que começaram a perguntar porque ele estava com aquela placa que indicava limite de velocidade de 50km/h. Sendo que ele tinha achado no chão da [avenida] Presidente Vargas, e resolveu, por brincadeira, que a levaria para casa. Por isso estamos aqui”, afirmou Andreia.

Já um fotógrafo, que preferiu não se identificar, relatou ter “enfiado a cabeça no freezer” para aliviar os efeitos do gás de pimenta, enquanto estava em um bar próximo à avenida Presidente Vargas, em um local conhecido como Balança Mas Não Cai.

Segundo o fotógrafo, assim como teria ocorrido na Lapa, os policiais militares encurralaram civis em ambientes fechados com bombas de efeito moral e disparos de bala de borracha.

“A gente estava com crianças, idosos, pessoas jogando baralho, enfim, um clima absolutamente normal até a polícia chegar. Primeiro eles chegaram já lançando bombas e depois recuaram um pouco, depois que um oficial foi lá conversar conosco. Mas, do nada, eles voltaram a tocar bombas, inclusive no lugar onde estavam os próprios colegas. Quando eu fui lá negociar acabei levando spray de pimenta no rosto. Tive que voltar correndo para o bar e colocar a cabeça no freezer”, disse.