Os 17 terminais que haviam sido fechados na manhã desta quarta-feira foram liberados por membros da oposição do sindicato dos motoristas e cobradores de São Paulo. Os bloqueios duraram cerca de quatro horas e afetaram ao menos 400 das 1.320 linhas da cidade.

Após a abertura, passageiros que estavam dentro dos terminais não precisaram pagar a tarifa.

Segundo a SPtrans, empresa municipal de transporte, foram bloqueados os terminais Santo Amaro, Parque D. Pedro 2º, Capelinha, Campo Limpo, Grajaú, Varginha, João Dias, Lapa, Cachoeirinha, Pirituba, Casa Verde, Vila Prudente, Jabaquara, metrô Santana, Sacomã e Mercado, do Expresso Tiradentes.

Passageiros são surpreendidos por bloqueios em terminais de ônibus
Bloqueios de sindicalistas complicam trânsito no entorno dos terminais

No período da manhã, foram afetados 750 mil usuários, segundo a SPtrans. A empresa informa, ainda, que comunicou, no início da manhã, a Polícia Militar e o Ministério Público sobre os bloqueios.

O grupo pretende fechar todos 29 terminais da cidade às 9h de amanhã. Eles vão aderir ao “Dia Nacional de Lutas”, movimento de centrais sindicais que pretende paralisar São Paulo e algumas das principais cidades do país amanhã. As centrais sindicais devem se reunir em frente ao Masp, na avenida Paulista, a partir das 12h.

Hoje, os sindicalistas chegaram aos locais por volta das 8h e, gradativamente, fecharam as saídas do locais. Passageiros conseguiam entrar, mas os ônibus não podiam sair.

No terminal Parque D. Pedro 2º, um grupo de dez sindicalistas formou dois times, improvisou traves e disputou uma partida de futebol no local.

O grupo de manifestantes é ligado a Valdevan Noventa e Edivaldo Santiago, que compõem a chapa de oposição para a eleição do sindicato dos motoristas e cobradores. Uma eleição para a diretoria do sindicato ocorre nesta semana.

Atualmente, o presidente do sindicato dos motoristas e cobradores é Isao Hosogi. Ele condenou os bloqueios e disse que uma “minoria dissente pratica terror eleitoral”.

Edivaldo Santiago, no entanto, negou que os atos de hoje tenham relação com a eleição. “Os bloqueios não têm nada a ver com a eleição. O trabalhador tem de vir em primeiro lugar”, disse.

Ainda de acordo com ele, os sindicalistas só saem após manifestação da prefeitura sobre as reivindicações do grupo. Eles querem melhores condições de trabalho e garantia de emprego a cobradores.

No dia 3, o mesmo grupo bloqueou três terminais na cidade por duas horas e meia.

“É um absurdo que uma disputa sindical afete a vida do trabalhador de São Paulo”, diz Jilmar Tatto, secretário municipal dos Transportes.

A aposentada Benedita Fernandes, 69, é uma das prejudicadas com o bloqueio no terminal Parque D. Pedro 2º. “Os trabalhadores poderiam avisar a população antes de realizar qualquer ato. Agora, ficamos sem a possibilidade de voltar para casa. Não tenho dinheiro para táxi”, reclamou.

 Editoria de Arte/Folhapress 

DISPUTA

O principal articulador da chapa de oposição na eleição do sindicato dos motoristas e cobradores de ônibus é Edivaldo Santiago, 65, que liderou a maior greve de ônibus da história de São Paulo.

Ele era presidente do sindicato em 1992, quando os veículos ainda eram da CMTC (empresa municipal) e ficaram nove dias parados.

“Nenhum partido nos representa. Somos contra essa atual administração do sindicato, que é conivente com os patrões e se vende para a prefeitura”, disse Santiago ao participar do protesto da semana passada. Ele é candidato a vice-presidente na chapa da oposição.

Santiago é criticado por opositores por não ter endurecido na gestão Maluf, quando a CMTC foi extinta.

Voltou ao sindicato em 2000. Ele e outros 18 integrantes da diretoria foram presos em 2003 sob a acusação de crimes como enriquecimento ilícito e formação de quadrilha -negada por eles.

Entre os presos também estava o atual presidente, Isao Hosogi, o Jorginho, e o diretor financeiro, José Valdevan de Jesus, o Valdevan Noventa.

Libertado, Jorginho assumiu no ano seguinte por influência de Santiago, a quem chamava de “padrinho”.

Mas disputas acabaram com a aliança de décadas.

Segundo investigações do Ministério Público, a disputa pelo poder no sindicato causou a morte de ao menos 16 pessoas em 20 anos.

Dos 19 denunciados pelo Ministério Público Federal em 2003, dois morreram antes de o caso ser julgado.

A sentença desse caso saiu no ano passado, mas os réus tiveram a punibilidade extinta porque a maioria dos supostos crimes já havia prescrito.

A única acusação remanescente –de formação de quadrilha armada– ainda aguarda julgamento