Ale Silva/Futura Press/Estadão Conteúdo
Manifestantes se reuniram no sábado (24) no Largo do Guimarães, em Santa Teresa, para marcar os dois anos em que o bondinho não circula mais
Um ato de protesto e reivindicação programado para a tarde desta terça-feira (27), próximo ao local onde mora o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), no Leblon, zona sul da capital fluminense, vai marcar os dois anos sem o bonde de Santa Teresa, um dos pontos mais visitados por turistas na cidade. Em agosto de 2011, um bonde descarrilou, matando cinco pessoas e ferindo pelo menos 40.
A primeira previsão do governo estadual era de que o bonde estivesse circulando no primeiro trimestre de 2014. A última informação divulgada pela Secretaria Estadual da Casa Civil, no entanto, é de que ele estará funcionando no fim do primeiro semestre do ano que vem, quase três anos depois de ter saído de circulação.
No sábado (24), os moradores de Santa Teresa fizeram um ato público no Largo dos Guimarães, com a participação de blocos de carnaval do bairro, como Carmelitas, Aconteceu, Céu na Terra e Badalo. Na manhã de domingo (25), foi celebrada uma missa na Igreja Anglicana em memória do motorneiro Nelson e todas as vítimas do acidente.
Há pouco mais de um mês, no dia 19 de julho, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro realizou a primeira audiência do processo que apura as causas do descarrilamento. Sete pessoas envolvidas no acidente prestaram depoimento na 39ª Vara Criminal da capital. Foram ouvidas pela Justiça três vítimas e quatro testemunhas de acusação.
Dois peritos do ICCE (Instituto de Criminalística Carlos Éboli) que vistoriaram o bonde envolvido no acidente e outros bondes que atendiam à região foram os primeiros a serem ouvidos.
Segundo o tribunal, eles explicaram o funcionamento do sistema de frenagem dos veículos e disseram que a perícia deixou claro que, em vários deles, houve uma mistura de peças novas com antigas, inclusive recuperadas com solda. Eles afirmaram ainda que, a longo prazo, a prática poderia interferir no sistema de freios.
Um homem que perdeu a filha de 12 anos no acidente também depôs na audiência. Delegado da Polícia Federal, ele contou que estava com a ex-mulher e os dois filhos no primeiro vagão, ao lado do motorneiro Nelson, que havia acabado de entrar. Ele relatou em detalhes o momento em que o veículo começou a acelerar durante uma descida, “enquanto o motorneiro tentava desesperadamente fazê-lo parar”.
Uma advogada, que andava de bonde pela primeira vez, contou que presenciou a troca de motorneiro ao embarcar no Largo dos Guimarães. Segundo a vítima, havia muita gente em pé, inclusive ela. Como estava na parte de trás, a advogada foi uma das primeiras a conseguir sair do bonde.
Réus
Os cinco réus do processo, todos funcionários da empresa Central, são o motorneiro Gilmar Castro, o coordenador de manutenção e operação José Valladão Duarte, o chefe de manutenção da garagem, Cláudio Luiz Lopes do Nascimento, e os assistentes de manutenção dos bondinhos Zenivaldo Rosa Corrêa e João Lopes da Silva.
Dentre eles, apenas Gilmar não compareceu, assim como seus advogados. Por esta razão, segundo informou o TJ-RJ, o processo foi desmembrado em relação a ele. Um defensora pública para defendê-lo.
A defesa dos réus apresentou uma relação com 21 testemunhas, que serão ouvidas no dia 24 de setembro, a partir das 13h. Os acusados serão interrogados no mesmo dia.
Bonde
De acordo com a Secretaria Estadual da Casa Civil, 14 bondinhos fazem parte da nova frota do projeto de revitalização do Sistema de Bondes de Santa Teresa, que inclui ainda troca dos trilhos e trajeto 30% maior, passando de 7,2 km para 10,5 km.
A modernização de todo o sistema custará cerca de R$ 110 milhões. O total vai englobar a fabricação dos bondes e a reforma da rede elétrica, trilhos, oficina, controle operacional e segurança.
Em março deste ano, o consórcio Elmo-Azvi foi o vencedor da licitação para produção da via permanente, rede aérea e subestação de energia do sistema de bondes de Santa Teresa.
O trajeto terá seus trilhos trocados por outros feitos para terrenos irregulares, mas manterá o mesmo traçado, tombado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em abril de 2012.