Segundo dados obtidos pelo UOL sobre a localização dos acidentes fatais com ciclistas entre 2010 e 2012, o Jardim Helena, no extremo da zona leste de São Paulo, é o bairro com maior incidência de mortes no período. Localizado entre a rodovia Ayrton Senna e a linha 12 Safira da CPTM, com 9,2 km², o bairro somou um acidente fatal em 2010, oito em 2011 e um em 2012.
Com uma topografia plana, o vaivém de bicicletas pelas ruas do bairro é constante e chega a ser o principal meio de transporte de alguns moradores. “É um lugar muito atípico, parece fora de São Paulo. É o único lugar onde vi fila dupla de bicicletas estacionadas”, conta Ronaldo Tonobohn, superintendente de Planejamento e Segurança no Trânsito da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego).
Usuário assíduo da bicicleta no bairro, o aposentado José Raimundo do Nascimento, 68, já foi vítima de dois acidentes em menos de três meses. No primeiro deles, foi atingido por um carro no cruzamento de uma movimentada avenida do bairro; no segundo, caiu em um buraco quando passava pela canaleta reservada aos pedestres no viaduto da China e foi arremessado no meio da pista.
“Mal havia sarado do primeiro, já veio o outro. Por sorte, o farol estava fechado e não tinha trânsito na hora”, conta. Ele conta que é comum ouvir falar sobre acidentes com ciclistas na região. Para Nascimento, é preciso mais ciclovias e punição exemplar para motoristas que dirigem com risco ao ciclista. “Tinha de ter uma condenação para quem faz isso, já vi gente acertar ciclista e nem parar para socorrer. Os ônibus, então, nunca respeitam, andam muito rápidos e ‘tiram fina’ da gente”, diz ele, que prefere usar a bicicleta ao ônibus para fazer distâncias curtas como ir a São Miguel Paulista ou Itaim Paulista.
Estrutura
A única ciclovia no Jardim Helena é a do Parque Tietê, que tem uma das extremidades a oeste do bairro. Segundo a CET, o bairro foi foco de um estudo e é prioridade para implantação de um projeto de estrutura cicloviária.
O projeto pretende construir uma rede mista de 20 km, com ciclovias separadas, ciclofaixas e ciclorrotas, que também devem se integrar com a rede de ciclovias de Guarulhos e priorizar o acesso às estações da CPTM, além da construção de paraciclos e bicicletários.
Segundo nota da CET, o projeto executivo já está pronto, mas a obra é de responsabilidade da Secretaria de Coordenação das Subprefeituras e, no momento, “não estão sendo estruturados os projetos da região de São Miguel”.
Lotação nos bicicletários
O ajudante geral Adílson dos Santos usa a bicicleta todos os dias no caminho de casa até a estação Jardim Helena/Vila Mara da CPTM. Ele conta que, além dos ônibus em alta velocidade nas ruas do bairro, outro problema é recorrente: a lotação dos bicicletários da CPTM.
Com vaga para 256 bicicletas, o espaço tem, segundo a companhia, em média, 279 usuários por dia e teve, em maio, 6.944 acessos. As vagas são rotativas. Segundo Santos, em alguns dias da semana, há fila de espera por uma vaga. “Já fiquei 45 minutos esperando por uma vaga e acabei desistindo, liguei para minha mãe vir buscar a bicicleta ou chegaria atrasado ao trabalho”, conta ele, que usa a linha 12 todos os dias.
Prender a bicicleta na praça em frente ao bicicletário não é uma opção. “Aqui, deixou, roubou, não tem como”, diz. A estação fica próxima a um local de consumo de crack na região e os roubos são frequentes. Segundo o UOL apurou, os roubos de bicicleta, mesmo dentro do bicicletário, não são raros. Em março, ladrões armados renderam o único funcionário que cuida do bicicletário, estouraram os cadeados e levaram uma bicicleta de alto valor comercial.
Em nota, a CPTM informou que foi registrado boletim de ocorrência sobre o incidente e que conta com segurança que realiza rondas preventivas em toda a área patrimonial, além de manter equipes preparadas para agir, caso necessário.
Ainda segundo a empresa, o sistema de entrada e saída de bicicletas no espaço é controlado por um sistema online que cadastra foto e dados do usuário e da bicicleta e gera um código de barras com lacre que é afixado na bicicleta.
Quando a reportagem do UOL esteve no local, os funcionários informaram que os computadores rodam uma versão muito antiga de sistema operacional e trava constantemente, prejudicando o cadastro e conferência de qual bicicleta entrou ou saiu, em especial nos horários de maior movimentação.
O vigia terceirizado que faz a ronda na estação Jardim Helena, passava pelo bicicletário de uma em uma hora, onde assinava uma lista-ponto e permanecia por apenas dez minutos. Após os incidentes de roubo, câmeras e grades foram instaladas no local. Uma base da Polícia Militar que funcionava na praça, em frente à estação, está desativada há anos, segundo moradores.
A nota da CPTM ainda aconselha os usuários a utilizar os bicicletários das estações mais próximas quando houver lotação nos horários de pico e a sempre usar cadeados.