Quem passa pela rua Joaquim Floriano avista prédios modernos e espelhados, lojas sofisticadas e um eclético cardápio de restaurantes, paisagem tão cara ao Itaim Bibi. Perto da rua Iguatemi, a vista se embaralha: há um sofá velho encalhado no caminho.

O móvel tornou-se morada de diferentes espécies. Sobre a água que se acumula, um criadouro de pernilongo. Sujo e desgastado, é ideal para camuflar baratas e ratos.

Empresas de varrição culpam descarte irregular por lixo espalhado em SP
Para escritora, é difícil cobrar conscientização de pessoas em São Paulo

Vez ou outra, moradores de rua fazem uma pausa por ali. O objeto virou depósito de lixo numa das regiões mais luxuosas da capital.

A advogada Jeanne Darc de Faria, 35, avista a “ilha” de lixo do alto do 19º andar do escritório onde trabalha.

O assento descartado é “o símbolo do sentimento que a administração pública e os próprios cidadãos possuem pela cidade: falta de amor pelo bem comum”, diz ela.

A julgar pelas multas aplicadas contra as duas empresas responsáveis pela varrição, a prefeitura tem conhecimento desse quadro. Desde o início do governo Haddad até o último dia 20, a administração petista emitiu 370 multas, 25 vezes mais que o mesmo período de 2012.

Segundo as empresas, o que contribui para essa situação são os chamados “pontos viciados”… em lixo. Nesses lugares, mesmo com as varrições, há sempre sujeira acumulada –ao todo, a cidade tem 4.373 pontos.

No centro, a situação é ainda mais crítica. Sacos de lixo residencial e comercial são revirados por moradores de rua à procura de latinhas, que são vendidas em ferro-velho.

Quando caminhões passam, funcionários se atêm aos sacos de lixo. O material despejado na rua fica ali, “para o pessoal do próximo turno [da varrição] recolher”, disse um coletor.

A três semanas do verão, quando começa a temporada de chuvas, lixo acumulado em praças, vias e terrenos não é exclusividade de bairros nobres ou do centro.

Nas últimas duas semanas, a Folha percorreu cerca de 50 km em diferentes regiões. Viu acúmulo de entulho, garrafas PET, frascos plásticos e os mais variados tipos de embalagem “flanando” por lugares como Itaim Bibi (zona oeste) e Itaim Paulista (zona leste).

“O lixo tornou-se endêmico pela cidade”, diz o engenheiro Abdias Ferreira Filho, 72, do Jardim Paulista.