Yasuyoshi Chiba/AFP
Menina é abraçada pela mãe na Vila do Metrô, comunidade da Mangueira, na zona norte do Rio
A Linha 2 do Metrô do Rio de Janeiro ficou parada duas vezes na manhã desta quinta-feira (9) devido ao corte de energia entre as estações Triagem e São Cristóvão. Segundo a concessionária MetrôRio, moradores da comunidade conhecida como Vila do Metrô, na Mangueira, zona norte do Rio, protestavam na região e jogaram paralelepípedos, cadeiras e lixo na via.
Os moradores protestam desde terça-feira (7) contra remoções na favela. Desde quarta (8), o policiamento está reforçado na região. A PM chegou a ser acionada pela administração do Metrô. Segundo a concessionária, a energia foi religada às 8h13, mas os intervalos dos trens continuavam irregulares. Por volta das 9h30, o sistema parou novamente, por cerca de quatro minutos.
No protesto da última terça-feira, PMs chegaram a utilizar spray de pimenta e bombas de efeito moral e três manifestantes foram detidos por desacato. Segundo o comando do 4º Batalhão (São Cristóvão), houve um principio de tumulto na Radial Oeste também na noite de quarta-feira, e policiais do Batalhão de Choque impediram o fechamento da via. Homens do 4º BPM e do Choque permanecem no local nesta manhã.
A presença da polícia visa não somente conter as manifestações que tem ocorrido na região, mas também garantir a demolição das casas para um projeto de reurbanização. No local, está prevista a construção do Polo Automotivo Mangueira.
O trabalho de demolição está sendo feito pela prefeitura. Os moradores denunciam que, se saírem das casas, terão que ir para abrigos da prefeitura, e reivindicam o pagamento de aluguel social.
Segundo o subprefeito da zona norte, André Santos, os manifestantes não teriam direito a aluguel social ou a indenização porque supostamente invadiram casas que já haviam sido desocupadas pela prefeitura nos últimos quatro anos.
Santos afirmou que os moradores originais já teriam sido contemplados com aluguel social ou com imóveis do programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal.
CONFIRA A LISTA DE FAMÍLIAS REMOVIDAS OU AMEAÇADAS
Local | Famílias removidas | Famílias ameaçadas | Total | Justificativa |
Largo do Campinho/Campinho | 65 | – | 65 | BRT Transcarioca |
Rua Domingos Lopes (Madureira) | 100 | – | 100 | BRT Transcarioca |
Rua Quáxima (Madureira) | 27 | – | 27 | BRT Transcarioca |
Penha Circular | 40 | – | 40 | BRT Transcarioca |
Largo do Tanque | 66 | – | 66 | BRT Transcarioca |
Arroio Pavuna (Jacarepaguá) | 68 | 28 | 96 | Acesso à condomínio; BRT Transcarioca; Preservação ambiental |
Vila das Torres (Madureira) | 300 | – | 300 | Construção do Parque Madureira; Transcarioca |
Restinga (Recreio) | 80 | Indefinido | 80 | BRT Transoeste |
Vila Harmonia (Recreio) | 120 | – | 120 | BRT Transoeste |
Vila Recreio II (Recreio) | 235 | – | 235 | BRT Transoeste |
Notredame | 52 | Indefinido | 52 | BRT Transoeste |
Vila da Amoedo | 50 | Indefinido | 50 | BRT Transoeste |
Vila Taboinha | – | 400 | 400 | Reintegração de posse |
Asa Branca (Curicica) | – | Indefinido | Indefinido | BRT Transolímpica |
Vila Azaleia (Curicica) | – | 100 | 100 | BRT Transolímpica |
Vila União (Curicica) | – | 3.000 | 3.000 | BRT Transolímpica |
Colônia Juliano Moreira | – | 400 | 400 | BRT Transolímpica |
Metrô Mangueira | 566 | 46 | 612 | Estacionamento no entorno do Maracanã |
Vila Autódromo (Jacarepaguá) | – | 500 | 500 | Parque Olímpico; BRT Transolímpica; preservação ambiental |
Belém-Belém (Pilares) | – | 300 | 300 | Construção de novo acesso ao Engenhão |
Favela do Sambódromo | 60 | – | 60 | Alargamento do Sambódromo |
Morro da Providência | 140 | 692 | 832 | Implantação de teleférico e plano inclinado; área de risco |
Ocupação Machado de Assis | 150 | – | 150 | Projeto Porto Maravilha |
Ocupação Flor do Asfalto | 30 | – | 30 | Projeto Porto Maravilha |
Ocupações na Rua do Livramento | – | 400 | 400 | Projeto Porto Maravilha |
Ocupação Boa Vista | 35 | – | 35 | Projeto Porto Maravilha |
Quilombo das Guerreiras | – | 50 | 50 | Projeto Porto Maravilha |
Zumbi dos Palmares | 133 | – | 133 | Projeto Porto Maravilha |
Ocupação Carlos Marighela | 47 | – | 47 | Projeto Porto Maravilha |
Ocupação Casarão Azul | 70 | – | 70 | Projeto Porto Maravilha |
Total | 2.434 | 5.916 | 8.350 |
Desde 2010, a Prefeitura do Rio já demoliu cerca de 400 dos 600 imóveis que existiam no local. As demolições devem ser concluídas em um mês. O local está tomado por entulhos, casas parcialmente demolidas, esgoto a céu aberto e valas. Os moradores atuais, no entanto, foram avisados somente no momento da derrubada dos imóveis de que deveriam sair.
Ônibus incendiado
Na segunda-feira (6), parte do comércio na favela da Mangueira amanheceu fechado após moradores incendiarem um ônibus em protesto pela morte de um jovem durante uma ação da Polícia Militar, segundo informações da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Mangueira.
Por volta das 19h30 do domingo (5), nas proximidades de um acesso à comunidade, na rua Ana Néri, moradores pararam um ônibus da linha 622 (Saens Peña x Penha) e atearam fogo ao veículo. Ninguém se feriu. De acordo com a PM, antes do incêndio, os moradores ordenaram que todos os passageiros desembarcassem. As chamas destruíram totalmente o veículo, e atingiram ainda a fachada de um bar.
REMOÇÃO E ESCOMBROS EM SP
Em São Paulo, 200 famílias viveram por mais de seis meses entre escombros de casas demolidas, entulho e lixo gerados pela derrubada de casas desapropriadas na zona sul capital pelo Metrô.
As demolições foram feitas na margem da avenida Jornalista Roberto Marinho, para limpar um terreno que será ocupado pela Linha 17-Ouro do Metrô, obra que fazia parte do planejamento do governo paulista para a Copa do Mundo de 2014. Posteriormente, a intervenção foi retirada dos planos paulistas para a Copa, já que o governo não conseguirá entregar a linha a tempo do Mundial. LEIA MAIS
A morte do jovem –que motivou o ato dos moradores– teria ocorrido na noite anterior. A mãe da vítima, que tem mais dois filhos e não quis revelar seu nome, disse que o rapaz não era criminoso e que trabalhava como camelô. “Ele era quieto, calado, não fazia mal a ninguém. Eu vi o meu filho ser atingido e levado pelos policiais para o hospital. O sentimento agora é de muita tristeza.”
Moradores afirmam que os policiais agem com violência durante as operações na favela. “Eles entram aqui com a maior truculência e humilham os moradores. Estamos cansados de ser tratados assim”, disse uma moradora que não quis se identificar. (Com BandNews)