Um vídeo feito por um morador de Samambaia mostra garis da Valor Ambiental, terceirizada pelo governo do Distrito Federal para realizar serviços de coleta seletiva, selecionando itens entre as sacolas de lixo que estão no caminhão e descartando garrafas PET na rua, perto de uma boca de lobo. O G1 procurou a empresa, mas não recebeu retorno até a publicação desta reportagem.
O flagrante foi feito na última terça-feira (20) por Fredson Washington dos Santos. O homem disse ao G1 que já suspeitava de que isso acontecesse, pois frequentemente via sacos de lixo na rua, mesmo depois de os caminhões terem passado. Desta vez, segundo o internauta, os garis jogaram as garrafas para fora do caminhão na frente dele, enquanto varria a calçada da rua.
O Serviço de Limpeza Urbano afirmou que os funcionários recebem orientação e treinamento e, quando não obedecem às normas, ficam sujeitos a advertência, suspensão ou demissão, dependendo da gravidade e reincidência nas infrações. A companhia não informou se os servidores ou a própria contratada foram punidos.
A Administração Regional de Samambaia informou que a região possui 5 mil bocas de lobo e que há muitas reclamações sobre o entupimento por lixo. “Nós repassamos as reclamações, por meio de ofício, pedindo para que a Novacap faça a limpeza de bocas de lobo entupidas.”
Professor do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Brasília, Pedro Murrieta disse que não há justificativa para o comportamento dos funcionários da empresa. “É completamente inaceitável que essas garrafas sejam jogadas na rua, obstruindo bocas de lobo, podendo provocar alagamentos na cidade”, afirmou.
Murrieta também afirmou que, apesar de a garrafa PET não produzir chorume, um dos principais contaminantes de um aterro sanitário, o plástico, derivado do petróleo, demora séculos para se decompor no meio ambiente. “A coleta da garrafa PET é um ótimo recurso para reaproveitamento deste material. Caso contrário, são cerca de 300 anos para uma garrafa dessa poder ser reutilizada pela natureza.”
De acordo o SLU, essa não é a primeira vez em que garis são flagrados em uma conduta inadequada. Há dois anos, a equipe que trabalhava na área do Aeroporto JK foi substituída depois de uma investigação apontar que os garis estavam coletando resíduos secos e vendendo-os, sem autorização.
Coleta seletiva
Ainda segundo a empresa, as principais reclamações da população sobre o serviço de coleta seletiva são os atrasos dos caminhões. O SLU informou que esses atrasos acontecem na maioria das vezes devido ao trânsito. Além disso, os moradores do DF reclamam também que quando os sacos se rompem, os garis não voltam para recolher o lixo seco que ficou no chão. A companhia disse que, em geral, esse rompimento acontece porque as pessoas não embalam de maneira correta o lixo.
No último mês de abril foram recolhidos cerca de 4 mil toneladas de lixo seco em Brasília, segundo o SLU. O investimento que GDF destinou no último mês para as empresas terceirizadas que prestam serviço de limpeza urbana foi de R$ 654.538,37. Desta quantia, R$ 90.115, 37 foi para a Valor Ambiental.
Para o professor da UnB Pedro Murrieta, sistema de coleta seletiva no DF representa um grande avanço, mas ainda falta muito para que o lixo da cidade seja tratado de maneira correta.
“O Lixão da Estrutural, por exemplo, não possui um tratamento adequado para o líquido tóxico, o chorume, que é derivado das matérias orgânicas. Uma alternativa para isso, além dos aterros sanitários, é uma técnica conhecida como compostagem, que transforma o material em adubo. Em Brasília existe um local em Ceilândia onde isso acontece, mas ainda falta”, afirmou Murrieta.