Cristiane Coelho foi indiciada nesta segunda-feira (27) pelo homicídio qualificado do filho Lewbo Bezerra, de 9 anos, e a tentativa de homicídio do ex-marido, Francileudo Bezerra. O relatório do inquérito do caso foi entregue ao Ministério Público do Ceará na manhã desta segunda, em Fortaleza. Após mais de cinco meses de investigação, a polícia concluiu que Cristiane envenenou o filho mais velho e o ex-marido com “chumbinho”. O crime aconteceu em novembro de 2014.

O relatório de 119 páginas foi entregue pelo delegado da Polícia Civil Wilder Brito Sobreira, do 16º Distrito Policial, em Fortaleza, ao Ministério Público do Ceará (MP-CE). Entre os agravantes do crime estão motivo torpe, com emprego de veneno, com recurso que torna impossível a defesa, além da vítima ser criança e filho de Cristiane.

Na madrugada de 11 de novembro de 2014, o subtenente do Exército Francileudo Bezerra e seu filho Lewdo Bezerra ingeriram veneno para rato conhecido como “chumbinho”. O pai ficou em coma por uma semana e se recuperou. O militar chegou a ser apontado como suspeito de homicídio, porque no primeiro depoimento a mulher, Cristiane, contou à polícia que ele tinha matado o filho com tranquilizantes e tentado se matar, além de agredi-la.

“Estou indiciando a Cristiane por tentativa de homicídio e homicídio triplamente qualificado. A pena é de mais de 30 anos se ela for condenada”, diz o delegado. No inquérito, o policial pede também que a Justiça decrete a prisão preventiva de Renata Coelho.  “A Cristiane estava no Recife, na casa da mãe. Tivemos a informação de que ela deixou a casa e está com o pai, um policial aposentado. Vamos pedir que a juíza [Cristiane Magalhães Cabral, da 1ª Vara do Júri] decrete a prisão itinerante da Cristiane”, explica. Ele também desindicia – tira da condição de suspeito –, o pai do garoto, Francileudo Bezerra.

O crime
Na madrugada de 11 de novembro de 2014, o subtenente do Exército Francileudo Bezerra e seu filho Lewdo Bezerra ingeriram veneno para rato conhecido como “chumbinho”. A substância foi encontrada na pia da cozinha da casa do casal.  O pai ficou internado durante 32 dias no Hospital Geral do Exército, em Fortaleza, dos quais em coma por uma semana, e se recuperou.

O militar chegou a ser apontado como suspeito de homicídio, porque no primeiro depoimento a mulher, Cristiane, contou à polícia que ele tinha matado o filho com tranquilizantes e tentado se matar, além de agredi-la. “A Cristiane, que dizia ter sido espancada pelo marido, matou o filho envenenado fazendo uso de sorvete de morango. Não há mais dúvida”, afirmou o delegado.

Cabe agora ao promotor de Justiça Humberto Ibiapina apresentar, ou não, a denúncia crime contra Cristiane Coelho à juiza Cristiane Magalhães Cabral, titular da 1ª Vara do Júri do Fórum Clóvis Beviláqua, em Fortaleza. “Esperamos embarcar para Recife ainda esta semana para cumprir essa medida [prisão de Cristiane] necessária à instrução criminal.”

Wilder Brito também pediu que a Infraero e Polícia Federal sejam informadas do indiciamento de Cristiane Coelho, para que ela não consiga sair do País. “Existe a possibilidade de o cunhado de Cristiane dar guarida a ela na China”, diz. A irmã de Cristiane e o cunhado moram no país asiático e, de acordo com as investigações, sugeriram que ela fosse passar algum tempo com eles.

Depois de cinco meses, o delegado Wilder Brito não tem dúvidas de que a mãe é responsável pelo assassinato do filho de 9 anos. “Não há uma prova, é um conjunto de provas que demonstra cabalmente que fica impossível a defesa fazer contestações (…). Cada laudo complementa o outro”, explica o delegado.

Motivação
A motivação do crime, de acordo com as investigações, seria um seguro do Exército de cerca de R$ 150 mil, os soldos do militar e um outro seguro que o subtenente havia feito em nome do filho mais velho. “Ela era a principal beneficiária. O pessoal do Exército, os militares, têm um seguro e ela seria a principal beneficiária. Além disso, além do seguro, ela seria  pensionista do Exército, ela não precisaria trabalhar, todo mês o dinheiro ia cair na conta dela”, disse Francileudo Bezerra, em entrevista.

Investigação
A perícia realizada nos equipamentos eletrônicos usados pelo casal, notebooks e celulares, aponta que a mãe da criança fazia pesquisas na internet sobre como envenenar pessoas com chumbinho desde o dia 29 de outubro. “Ela pesquisou como matar uma pessoa envenenada, de como seria a dosagem (…). O tempo para matar uma pessoa envenenada dura de 30 minutos a duas horas, dependendo da dosagem, do aspecto físico da pessoa. No caso da criança, é de 30 minutos. Ela estudou tudo isso durante o período em que ela dizia que estava dormindo”, diz.

O documento detalha os termos de busca: “quanto tempo leva para morrer quem ingeriu chumbinho?”; “abordagem dos envenenamentos e das dosagens excessivas de medicamentos”; “matou mulher e ingeriu chumbinho”; “menina de 12 anos morre após ingerir chumbinho em Paulista”; “os elementos da morte” e “suicídio”.

“Com a extração dos primeiros dados, nós percebemos que ela também ficou em redes sociais após a morte do filho, discutindo com os internautas, com as pessoas que estavam em uma rede social. Ela montou uma estrutura de defesa para ela. Mas se ela era a vítima, porque aquele comportamento sempre de defesa?”, questiona o delegado. De acordo com Wilder Brito, o planejamento do crime começou em junho de 2014.

Guarda
Nesta segunda-feira (27), o subtenente Francileudo Bezerrra deverá ir ao Recife, junto com o advogado Walmir Medeiros, para buscar o filho mais novo. Na sexta-feira (24), a juíza Ana Paula Feitosa de Oliveira, titular da 16ª Vara da Família de  Fortaleza  destituiu Cristiane Renata Coelho da guarda do filho mais novo, de 7 anos. Na decisão, a juíza transfere a guarda da criança para o pai, o subtenente do Exército Francileudo Bezerra.

“As passagens estão marcadas para a noite desta segunda-feira, mas ainda preciso ver alguns detalhes. A juíza daqui deverá entrar em contato com o  juiz de Recife para definir como será feito o ‘resgate’ da criança. Como ele é autista, o oficial de jJUstiça não pode ir sozinho, ele vai cumprir o mandato, mas a criança deve ser  entregue ao pai”, explica o advogado.