Uma esquete de teatro satirizando a falta de investimentos na educação, na cidade do Rio de Janeiro, e as retaliações que os profissionais alegam ter sofrido depois da greve de 2014, marcou hoje (10) manifestação em frente à sede da prefeitura. Cerca de 50 profissionais cobraram esclarecimentos sobre cortes nos salários, que ultrapassam R$ 9 mil em alguns casos, desde o ano passado, e pedem reposição de professores para escolas de ensino fundamental.
Segundo uma das coordenadoras do Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação no Rio de Janeiro (Sepe), Marta Moraes, a peça traduziu o sentimento da categoria em relação às medidas que sucederam a greve. No seu entender, “a prefeitura não pode ficar dando castigo, perseguindo, deixando sem salário quem aderiu ao movimento. Queremos saber quais são as pendências que justifiquem esses cortes. É um massacre, tendo em vista que os salários já são baixos”.
Marta disse que os valores dos descontos aplicados depois da greve são altos e contínuos. É o que ocorreu com o professor Vitor Luiz Santos Bruno, que dá aula em duas unidades, na Ilha do Governador, na zona norte. “Nosso contracheque já veio zerado depois da greve – mesmo a paralisação sendo legal. Mas mesmo assim, nos meses subsequentes a prefeitura continuou descontando do nosso salário”, contou, mostrando o documento de maio, com o desconto e a justificativa “competência/Junho de 2014”. “É da greve”, disse ela, embora a prefeitura tenha informado que nenhum desconto atual é da paralisação, e se referem a outras pendências, sem esclarecer quais.
A merendeira Clécia Maria Vieira, da Escola Municipal Darcy Ribeiro, em Campo Grande, denunciou que o desconto corroeu quase todo o seu salário. “Gostaria de saber qual a diferença que os meus R$ 900 vão fazer para prefeitura”, desabafou. “Gostaria de saber onde eles vão investir o meu dinheiro, já que fazem tanta questão”, reclamou. Para ela, a rede deveria ampliar o número de profissionais, e não descontar de quem defende melhores condições de trabalho.
Alunas dos cursos de Educação para Jovens e Adultos também participaram da manifestação, em apoio às professoras. Além de pedir que a prefeitura reveja os descontos, reivindicaram melhores condições na escola Alagoas, em Pilares. “Temos laboratório de informática montado sem nenhum professor”, contou Neusileia Campos de Souza, de 53 anos. “Os aparelhos de ar condicionado chegaram, mas nunca foram montados, e também nunca tivemos aulas de Educação Física”, completou Teresa Cristina Soares, de 44 anos. A disciplina é obrigatória.
Uma estudante do curso para adultos, que pediu para não ser identificada – por vergonha, disse ela –, aproveitou para pedir professores para a escola do filho. “Tá faltando professor para a sétima série, na escola Joaquim Ribeiro”, no bairro de Inhaúma, zona norte, denunciou.
Segundo a Secretaria de Educação, o entendimento sobre a greve do ano passado é de que o movimento era ilegal, mas os descontos dos professores são referentes a outras pendências administrativas ou faltas, depois da greve. A orientação, acrescentou, é que os profissionais peçam esclarecimentos às coordenadorias regionais de educação responsáveis pelas unidades escolares. Até a edição desta matéria, a secretaria nada esclareceu sobre a falta de professores, denunciada pelos manifestantes.