Bromélias, bambus e outras plantas que acumulam água vêm sendo apontadas como vilãs do combate ao mosquito Aedes aegypt, causador da dengue, da zika e da chikungunya. Quem quer ajudar a eliminas os focos das doenças se pergunta: o que fazer com elas, então? Especialistas ouvidos pelo UOL respondem que não é bem assim.

A bromélia, coitada, é uma injustiçada. Deixem as plantas em paz

Ricardo Lourenço, entomologista (especialista em inseto) do Instituto Oswaldo Cruz, da Fiocruz

Armadilhas artificiais, criadas pelo homem, devem sim ser alvo constante de monitoramento –e isso inclui vasos e pratos que acumulem água no jardim e cercas de bambu, por exemplo. Mas os botânicos defendem que as plantas vivas “viraram uma espécie de bode expiatório”. 

“Se houver foco, seria algo tão raro e tão pouco que dificilmente a larva chegaria à fase adulta”, explica Lourenço.

A incidência do mosquito nas plantas que acumulam água foi estudada em 2007 pelo Instituto Oswaldo Cruz. No período de um ano, foram encontradas 2.816 formas imaturas de mosquitos nas 156 plantas de dez espécies do bromeliário do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Dessas, só 0,07% correspondiam ao Aedes aegypti e 0,18% ao Aedes albopictus.

Após 480 inspeções, que encontraram duas larvas em uma única planta, os pesquisadores concluíram que as bromélias “não constituem um problema epidemiológico como foco de propagação ou persistência desses vetores”.

Já nos bairros da Gávea e do Jardim Botânico, vizinhos ao parque, um ou muitos focos, que continham dezenas de larvas e pupas de Aedes aegypti, foram achados a cada três ou quatro domicílios inspecionados no mesmo período –índices de infestação predial de, respectivamente, 3% e 4,45%, segundo a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro. Os focos costumam estar em calhas, pneus e outros reservatórios artificiais.

Os números são considerados altos pela OMS (Organização Mundial de Saúde), que recomenda que o percentual não ultrapasse 1%.

Elas são aliadas

Para o botânico e ambientalista Ricardo Cardim, de São Paulo, além de plantas terem uma chance “minúscula” de virar criadouro de Aedes, elas podem ajudar o homem no combate ao mosquito:

A bromélia é um ecossistema, é um ser vivo. Ela recebe a água, mas a água não fica parada 

“Ela é envolvida por uma série de interações químicas e biológicas”, explica ele. “Envolve ainda outros animais: passarinho, insetos, pequenas pererecas. Há uma vida muito rica em torno da planta, que ajuda na saúde pública.”

Ministério da Saúde adverte: são, sim, vilões

Mesmo a Fiocruz sendo um órgão de referência ligado ao Ministério da Saúde, a pasta age na contramão do que defende o estudo feito pelos especialistas e informa que as plantas podem, sim, servir de habitat ideal às larvas do Aedes.

Por isso, os agentes de vigilância sanitária são orientados a fiscalizar as bromélias –a lista do ministério de possíveis criadouros inclui ainda lixeiras, baldes, ralos, calhas, garrafas, pneus, pratinhos com vasos de plantas e até brinquedos.

Segundo os técnicos do ministério ligados ao combate de epidemias, o Aedes busca “preferencialmente os depósitos existentes no ambiente doméstico e ao seu redor para procriar”. “No entanto, também pode buscar alternativas como os criadouros naturais (bromélias, buracos em árvores, depressões em rochas, etc.)”, disse a pasta, em nota.

Para as bromélias domésticas, os técnicos recomendam virar as folhas para que elas entornem a água acumulada após rega ou chuva. No caso de grandes produtores, como viveiros, a área deve ser monitorada pelo serviço de controle da dengue no município. “Os larvicidas podem ser agregados à água no momento da irrigação para evitar a proliferação do vetor”, informou órgão.

Quinze minutos de vistoria seriam “suficientes para manter o ambiente limpo” quando as medidas se tornam rotineiras.

Como cuidar do jardim

  • Coloque areia, sal ou pedritas em pratinhos e vasos que formem lâminas d’água.
     
  • Os botânicos dizem para não colocar nada nas folhas e no miolo da bromélia ou do bambu, por exemplo, porque isso pode matar a planta. Mas o Ministério da Saúde diz para colocar água sanitária diluída (uma colher de café ou 2ml, para cada litro de água) nos pontos com água acumulada –cuidado para não colocar em recipientes com água para consumo humano e de animais.
     
  • Em casos extremos, use um véu de filó em torno da planta, amarrando com barbante na parte de baixo, com bastante cuidado para não machucá-la.