Melvin Redick? Ou Charles Costacurta? São de um morador de Jundiaí (SP) as fotos que aparecem em um perfil falso do Facebook que, segundo o jornal americano “The New York Times”, foram usadas para divulgar conteúdo de militares russos. A ideia era influenciar a eleição de 2016 nos Estados Unidos.

Sem que soubesse, as fotos do vendedor Charles David Costacurta foram apresentadas como sendo de Melvin Redick. O perfil falso, já deletado, divulgou um site criado por uma agência russa de inteligência militar para prejudicar a candidatura de Hillary Clinton.

 

“Eu fiquei assustado e avisei minha namorada para dar uma olhada, porque não entendo muito de redes sociais e internet. Eu fui vítima. Só tenho rede social pela minha filha, familiares e amigos”, explica Charles ao G1.

Veja como tudo aconteceu:

 

  • Durante a campanha presidencial dos EUA, contas falsas em redes sociais foram utilizadas para divulgar informações prejudiciais à candidatura da democrata Hillary Clinton e favoráveis ao republicano Donald Trump
  • A suspeita é que a Rússia esteja por trás dessas contas
  • Na quinta (7), o “New York Times” publicou uma reportagem sobre o assunto, identificando algumas contas falsas do Twitter e do Facebook e as ligações delas com a Rússia
  • Um dos perfis falsos no Facebook, Melvin Redick, foi usado para divulgar um site criado pela inteligência militar russa
  • O site serviu para vazar e-mails hackeados do bilionário George Soros, financiador da campanha da candidata Hilary Clinton, e de outras pessoas
  • As fotos do perfil de Melvin pareciam ser de um brasileiro, por particularidades como uma tomada “estilo brasileira”
  • No dia seguinte à publicação da reportagem, G1 publicou uma notaperguntando se algum leitor conhecia as pessoas das fotos
  • G1 recebeu um contato por meio do Fale Conosco
  • Charles Costacurta reconheceu as imagens como suas e de sua filha

 

 
 

 Imagem de perfil incluído em reportagem do jornal 'The New York Times' mostra fotos que parecem ser de um brasileiro (Foto: Reprodução/NYT)

Imagem de perfil incluído em reportagem do jornal ‘The New York Times’ mostra fotos que parecem ser de um brasileiro (Foto: Reprodução/NYT)

 

Charles conta que as fotos são todas de 2014 e que não pretende processar. Ele não faz ideia de como chegaram até ele entre os dois bilhões de usuários do Facebook.

 

 

‘Aversão à política’

 

O brasileiro afirma que não acompanhou de perto as eleições dos EUA e tem aversão à política. Ele opta por manter distância até mesmo do cenário do Brasil. “Não gosto de política. A gente vê cada escândalo e, por isso, não sou muito ligado”, diz.

Em uma das fotos, uma criança aparece pintada com um desenho de borboleta. “A hora que eu peguei e vi essas fotos eu fiquei surpreso”, diz ele. “A minha filha estava pintada devido uma festa de aniversário em um clube de Jundiaí. A moça que faz recreação nas crianças pintou e lembro que todos falaram: ‘Nossa, Charles, que linda essa foto!’”, lembra. Aí foi quando eu coloquei ela de capa”. À época em que foi feita a imagem, a criança tinha 3 anos. Hoje ela tem 6.

“A gente fica totalmente vulnerável. Fica pensando a que ponto você tem uma segurança mesmo, né?”, diz ele. “Dizem que você tem uma rede social para se expor. Mas nessa rede social a gente faz notificações dizendo que é só para a gente, não para o público em geral”, afirma Costacurta, que mantém conectado ao perfil “só o pessoal mais chegado”.

 

Sobre a publicação da notícia com sua imagem no “NY Times”, ele diz que teve sentimentos distintos. “Ao mesmo tempo que preocupou, aliviou. Porque um detalhe fez com que mostrasse realmente o que aconteceu; que eu fui vítima de uma pessoa de má índole. Eu até printei a tela e coloquei no meu face, dizendo como a gente é vulnerável a esse tipo de coisa”, diz ele.

 

Charles com uma das fotos que foram usadas no perfil falso de Melvin Redick (Foto: Carlos Dias/G1)

Charles com uma das fotos que foram usadas no perfil falso de Melvin Redick (Foto: Carlos Dias/G1)

 

“A gente fica totalmente vulnerável. Fica pensando a que ponto você tem uma segurança. Você tem uma rede social para se expor, mas nessa rede social a gente faz notificações dizendo que é só pra gente, e não para o público em geral”, diz Charles.

 

 

Quem era Melvin Redick?

 

Melvin Redick era descrito como um norte-americano morador do estado da Pensilvânia, que teria estudado em um colégio e uma universidade de lá. Segundo o “The New York Times”, nenhuma das duas instituições tem registro desse nome.

Não havia postagens sobre a vida pessoal, só notícias que “refletem uma visão de mundo pró-Rússia”. O perfil foi considerado falso e deletado pelo Facebook, junto com outros parecidos.

O perfil de Melvin, segundo o jornal, foi um dos responsáveis por dar início à divulgação do site D.C. Leaks, criado em junho de 2016 pela agência de inteligência militar russa G.R.U.

 

A página foi usada para divulgar e-mails hackeados do bilionário George Soros, financiador da campanha de Hillary, de um ex-comandante da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), e de integrantes das equipes dos partidos Democrata e Republicanos.

 

Reprodução de reportagem do 'NY Times' mostra o nome Melvin Redick, um dos perfis falsos usados para influenciar a eleição dos EUA (Foto: Reprodução/NY Times)

Reprodução de reportagem do ‘NY Times’ mostra o nome Melvin Redick, um dos perfis falsos usados para influenciar a eleição dos EUA (Foto: Reprodução/NY Times)

 

Charles mostra a tatuagem que tem no braço esquerdo, visível em uma das fotos do perfil falso (Foto: Carlos Dias/G1)

Charles mostra a tatuagem que tem no braço esquerdo, visível em uma das fotos do perfil falso (Foto: Carlos Dias/G1)