8 km e 700m em 52 minutos.  Esta foi a marca alcançada pelo empresário Luciano Gerlin da Silva, de 45 anos, na 3ª Corrida e Caminhada da Unesp de Dracena no mês passado.  A prova, considerada um marco pelo dracenense e sua família, teve sabor de vitória. O prêmio principal? Celebrar a vida e a saúde, com a esposa Thaisa e os filhos Isabela, de 10 anos, e Tulio de 7 anos que fizeram o percurso caminhando.

No início do ano, o empresário reconhecido no setor do turismo da cidade e região viu a rota de sua vida mudar drasticamente após uma partida de futsal do Astro com os amigos. Numa falta que nem o juiz marcou por considerar irrelevante, Luciano caiu, levantou e seguiu jogando. Horas mais tarde em casa, uma dor insuportável fez com que telefonasse para a esposa que o levou para a Santa Casa. Internado e medicado recebeu o diagnóstico: rompimento de um cisto no rim. Luciano tem rins policísticos. Na hora, a lembrança do pai, que faz hemodiálise há alguns anos e que havia saído do hospital há pouco tempo e ainda estava debilitado, veio à cabeça. Muitas pessoas, inclusive achavam que era o pai Joaquim Arildo que continuava internado.

Muito conhecido na cidade, bem-sucedido profissionalmente, com família já constituída, Luciano acreditava estar no seu melhor momento físico, praticando exercícios físicos orientado por profissional de Educação Física, correndo muito mais que os 8 km da prova da Unesp e em menos tempo. Situação muito diferente da que se encontrava: com dor num leito de hospital, seguindo para uma cirurgia de emergência. O irmão do mais velho de Adriano e Juliano havia perdido a função de um dos rins. Os 38 dias de internação (considerando a passagem pelo centro cirúrgico e pela UTI), a vontade de poder beber água à vontade e não poder, a rotina do hospital, a perda considerável de peso, a privação de tantos hábitos e de coisas simples que ele não podia mais fazer mexeram com suas emoções.  “Num primeiro momento pensei que não iria suportar. Depois veio a calma e aceitei tudo o que estava acontecendo comigo. A gente nunca espera que vai acontecer com a gente. A força para passar por tudo vem de Deus”, revelou.

Dos dias no hospital, ele guarda a lembrança das visitas dos amigos e da família, principalmente dos irmãos que davam um jeitinho de ir vê-lo todos os dias. Também guarda a gratidão por toda a equipe médica, enfermeiras e equipe da Santa Casa. O tempo de internação foi um tempo de reflexão e de mais valorização da vida.

À volta para casa exigiu repouso e mais paciência. O trabalho e as demais atividades foram retomadas aos poucos. Três meses após a cirurgia, começou a treinar na academia, a caminhar na esteira. Coisas simples que antes da cirurgia tirava de letra, não eram mais desempenhadas com tanta facilidade. A corrida da Unesp era uma meta. Um mês antes intensificou os treinamentos. O grande dia chegou. Luciano estava acompanhado dos amigos e da família. Correu 8 km e 700m em 52 minutos tendo a chuva como companheira. Comemorou. Agradeceu com a certeza de que a vida é feita de momentos e que os momentos passam.

O bom momento de saúde assim como a situação delicada de saúde fazem parte da vida e só enriquecem a trajetória de Luciano que teve de recuar para ganhar força, pegar impulso e poder correr.  Foi o que ele fez em outras situações quando foi necessário ceder. Quando abriu a agência Luciano Turismo na rua Tiradentes, onde funciona até hoje, morou com a esposa em um cômodo da empresa durante quatro anos. A situação econômica do casal exigiu a saída da casa de aluguel com três quartos e churrasqueira para morar na agência. Os móveis ficaram guardados na chácara do irmão. “Andar para trás é muito difícil, ninguém quer. Mas não adianta nada subir sem ter alicerce”, considerou.

Ao contrário dos que consideram “voltar para trás” como uma derrota. Na vida como no esporte, Luciano compreende que existe o acerto e erro, os bons e os maus momentos, a saúde e a doença, o fim, o início e o recomeço.