Lideranças do PT passaram a adotar nesta terça-feira a estratégia de dizer em entrevistas que Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) têm a mesma posição em relação ao aborto, a de que são contra e não defendem a alteração da legislação atual, que prevê essa possibilidade apenas nos casos de estupro e risco de vida à mãe.
Antes de entrar na reunião da Executiva do PT, em Brasília, o Ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais), que tirou férias para se dedicar à campanha, disse que a polêmica não tem razão de ser.
“Tem temas sobre os quais não existe diferença entre os candidatos. Os dois candidatos têm a mesma posição sobre o aborto, são contra”, afirmou.
Após a reunião, o presidente nacional do PT e coordenador nacional da campanha, José Eduardo Dutra, repetiu a afirmação, espontaneamente: “Esse é um tema em que não há nenhuma diferença entre Dilma e Serra.
Eles pensam exatamente a mesma coisa. Há uma legislação, e a Dilma já disse claramente que não vai propor mudança nela”.
As declarações fazem parte da estratégia do PT de tentar tirar a candidata da defensiva em relação ao tema.
Tendo se declarado a favor da descriminalização do aborto antes da campanha, Dilma se viu pressionada por apoiadores ligados à área religiosa a ponderar o discurso, como forma de não perder votos nesse segmento. Desde então, ela vem se declarando pessoalmente contra o aborto e a descriminalização, mas ressaltando que o assunto também tem que ser tratado do ponto de vista da saúde da mulher.
A campanha do PT tem dito que a divulgação por adversários de que ela seria favorável ao aborto teria lhe tirado votos na reta final do primeiro turno.
Tanto Dutra quanto Padilha afirmaram que o PT usará o segundo turno para ressaltar as diferenças entre o governo Lula, do qual Dilma fez parte, e o governo de Fernando Henrique Cardoso, do qual Serra fez parte.
Eles exploraram o tema das privatizações, abordado por Serra ontem, para dizer que o tucano fez uma “defesa enfática” das privatizações, além de citar as mudanças no marco regulatório do pré-sal, questionando se Serra apoiará as declarações de seu assessor para área de energia, David Zylbersztajn, que é contra a mudança do modelo de concessões para o de partilha.
“Quero saber se o Serra apoia dar esse bilhete premiado às multinacionais” disse Dutra, sobre o pré-sal. Ontem, Serra abordou o assunto privatizações, afirmando que o PT também privatizou.
“O governo Lula continuou privatizando. Dois bancos. Não é um problema de número. É um problema de ideologia. Se privatizou, não era tão contra […] Poderiam ter refeito várias privatizações. Ninguém fez nada. Então, não me venham com tró-ló-ló, com factoides”, disse. Dutra respondeu hoje, lembrando que o PT em 2002 se comprometeu a respeitar contratos.
O presidente do PT disse ainda que o partido deve lançar ainda hoje um manifesto juntamente com os demais partidos da aliança, conclamando a militância a se empenhar pela vitória de Dilma e a “repelir a guerra suja”.
Ele disse ainda que o PT solicitou à Polícia Federal que abra inquérito para apurar quem são os responsáveis por panfleto distribuído ontem em encontro tucano e que incita militantes a divulgar na internet que, caso eleita, Dilma tentará impor a legalização do aborto, prostituição, perseguir cristãos e limitar a liberdade religiosa.