O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou hoje (12), em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, que houve motivação política para a citação de seu nome na lista com pedido de abertura de inquérito encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com base nas investigações da Operação Lava Jato da Polícia Federal.

“O Ministério Público escolheu a quem investigar; não investigou a todos, não teve um critério único para todos e, por motivações de natureza política, ele escolheu aqueles que eram alvo de investigação”, disse Cunha durante o seu depoimento, citando como exemplo o pedido de arquivamento da investigação sobre o senador Delcídio Amaral (PT-MS).

O petista foi citado pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, nos depoimentos de sua delação premiada. Costa disse que, quando o senador era diretor de Gás e Energia da Petrobras, entre 2000 e 2002, recebeu valores supostamente ilícitos da empresa francesa Alstom. “Não estou fazendo nenhuma denúncia contra o Delcídio, só estou fazendo um embasamento a respeito da petição”, concluiu.

No depoimento, prestado de forma espontânea, Cunha criticou a petição encaminhada por Janot, na qual é pedida a abertura de inquérito contra ele pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, classificando-a de “piada”.

Ele rebateu as acusações formuladas por Janot, a partir da delação premiada do doleiro Alberto Youssef, de que o deputado recebeu propina pelo contrato de aluguel de um navio-plataforma das empresas Samsung e Mitsui. Ainda de acordo com Youssef, Cunha teria pressionado as empresas, por meio de requerimentos na Câmara, por terem parado de pagar a propina.

“Eu não assinei nem fiz pedido para que apresentassem requerimento”, afirmou Cunha. “Se havia suspeição de que esses requerimentos pudessem ter sido feitos por suposta pressão, por que o procurador não considerou necessária a abertura de inquérito?”, questionou.

Cunha reclamou ainda de Janot não ter investigado a autoria dos requerimentos, feitos pela ex-deputada Solange Almeida (PMDB-RJ) e o deputado Sérgio Britto (PSD-BA); em um deles, eles solicitavam ao Ministério de Minas e Energia informações detalhadas sobre contratos da Petrobras com a Mitsui. Na outra solicitação, queriam acesso a auditorias do Tribunal de Contas da União.

Ele também refutou a denúncia de Youssef de que o executivo Julio Camargo, representante da Camargo Corrêa, pediu para que um percentual da propina fosse pago ao PMDB. Os pagamentos, segundo Yousseff, eram feitos pelo lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, que, segundo o doleiro, representava o PMDB na Petrobras. De acordo com a Procuradoria-Geral da República, os pagamentos, no montante de R$ 500 mil, ocorreram por meio de doações eleitorais oficiais.

“Isso é uma afirmação leviana”, criticou Cunha para quem a afirmação é uma forma de criminalização das doações legais de campanha. “Se for para dizer que a doação da Camargo [Corrêa] contra um é motivo para a abertura de inquérito e contra os outros não é, está se escolhendo quem se quer investigar”, repetiu.

Cunha também desmentiu as acusações feitas a partir dos depoimentos do policial federal Jayme Alves de Oliveira Filho, o Careca, preso em novembro, e que disse ter entregado dinheiro de propina na casa do deputado. Cunha mostrou que a casa apontada pelo delator pertence ao advogado Francisco José Reis. “Ele [Janot] insiste em querer aprofundar a investigação, mas se ele teve a chance de pegar o delator preso [Youssef] e pegou o termo [da delação] no dia 11 de fevereiro, porque ele não intimou o policial, porque ele fez essa omissão?”, questionou.

Cunha negou que o lobista Fernando Soares, o Baiano, tenha sido operador do PMDB no esquema de desvios na Petrobras e que o partido tenha indicado o ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró. “O PMDB não indicou em momento nenhum Nestor Cerveró.”

Ao finalizar o depoimento, Cunha disse, referindo-se ao Palácio do Planalto, que o pedido de abertura de inquérito é uma tentativa de transferir a crise para o outro lado da rua: “Dizer que o pedido de abertura de inquérito não constrange; constrange, principalmente quem está no exercício de chefia do poder. Colocar de uma forma irresponsável e leviana por escolha política de alguém para investigação é criar um constrangimento para transferir a crise do outro lado da rua para cá e nós não vamos aceitar.”