Após  participar de reunião da cúpula do PP, o líder do partido na Câmara, deputado Aguinaldo Ribeiro (PB) informou nesta quarta-feira (30) que a legenda só definirá se vai romper ou não com o governo Dilma Rousseff um dia antes ou um dia depois de a comissão especial votar parecer pela instauração ou não do processo de impeachment, o que está previsto para ocorrer entre os dias 11 e 14 de abril.

“O partido fará uma reunião do seu diretório ou no dia anterior à definição da comissão especial do impeachment ou no dia imediatamente posterior. E o diretório se manifestará sobre a postura de permanecer no projeto ou tomar outro rumo”, afirmou Aguinaldo Ribeiro. Deputados e senadores do PP se reuniram no gabinete do presidente da legenda, Ciro Nogueira (PP-PI), para discutir a possibilidade de desembarcar do governo. 

Nesta terça (29), o PMDB decidiu, por aclamação, romper oficialmente com o governo. Na reunião, a cúpula peemedebista também determinou que os seis ministros do partido e os filiados que ocupam outros postos no Executivo federal entreguem seus cargos. A expectativa é de que o desembarque do maior sócio do governo estimule que outros partidos deixem a base de apoio a Dilma.

O líder do PP na Câmara foi reiteradamente perguntado se há alguma determinação para que o partido não assuma cargos e novos ministérios, mas se esquivou de responder objetivamente à questão. “A bancada estabeleceu um calendário. O governo tem o dele. Fatos novos só poderão ser decididos se houver nova reunião para tomar uma decisão. Mas o que foi decidido foi isso, esse calendário”, disse.

Parlamentares do PP ouvidos pelo G1 afirmam que existe a possibilidade de o governo oferecer um ministério de peso ao partido, como o Ministério da Saúde, para evitar o rompimento. A expectativa é de que Dilma anuncie uma reforma ministerial até a próxima sexta.

“Esse não é o momento para discussão de troca de cargos. O que o partido quer é contribuir para o país. A questão das discussões, elas vão haver. É da política. Mas a bancada decidiu que a decisão será um dia antes ou depois da comissão de impeachment”, disse Aguinaldo Ribeiro. 

Questionado se o partido aceitará algum cargo esta semana, se for oferecido por Dilma, Aguinaldo Ribeiro se limitou a dizer que a decisão final sobre o rompimento será tomada na semana da votação do processo de impeachment na comissão.

O deputado não quis dizer se hoje há maioria ou não dentro do partido pelo rompimento, mas disse que a bancada está “dividida” em relação ao processo de impeachment.

“Nós não temos uma posição. Há uma posição clara de parlamentares que são contra e de parlamentares que são a favor. A posição é de que decidamos em conjunto. Que ainda que haja divergência, haja um consenso. A bancada está dividida [sobre o impeachment]”, disse.

A divisão interna do PP em relação à aliança com o Planalto se agravou entre 2015 e 2016. No início do ano passado, apesar dos apelos do governo, o partido decidiu apoiar a candidatura de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para a Presidência da Câmara, o que ajudou a derrotar o candidato petista Arlindo Chinaglia (PT-SP) em primeiro turno.

O PP também perdeu espaço no governo, no segundo mandato de Dilma, ao ser realocado do Ministério das Cidades, um dos mais cobiçados pelo alto orçamento, para a Integração Nacional, que administra menos recursos. A troca ocorreu porque Dilma quis agradar outro aliado, o PSD, comandado por Gilberto Kassab.

‘Efeito dominó’ na base
Desde os últimos dias, diante da então iminente saída do PMDB da base, integrantes da alta cúpula do governo passaram a agir junto a partidos da base aliada a fim de evitar o chamado “efeito dominó”, causando o rompimento de mais partidos com o Palácio do Planalto.

Integrantes do governo buscam manter o apoio de partidos como PR e PSD, por meio da nomeação para cargos e ministérios, além de liberação de emendas parlamentares individuais.

No início da noite desta terça, o chefe de gabinete da presidente Dilma, Jaques Wagner, convocou a imprensa para uma entrevista coletiva no Palácio do Planalto na qual avaliou que a saída do PMDB ocorreu em “boa hora” – por ter sido antes da votação do impeachment – e permitiu à presidente fazer uma “repactuação” com a base aliada.

“O governo recebe com naturalidade a decisão interna do PMDB, agradece todo esse tempo de colaboração que tivemos ao longo desses cinco anos no governo da presidente Dilma, e creio que a decisão chega numa boa hora, porque oferece à presidente Dilma ótima oportunidade de repactuar seu governo”, disse Wagner em sua fala.

No entanto, conforme o G1 apurou, há grande racha dentro do PR e do PSD em relação à atual aliança com o governo. Integrantes do PSD estiveram nesta terça em uma reunião de partidos da oposição para traçar estratégias para o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Um dos parlamentares do PSD presentes ao encontro chegou a dizer para os colegas de oposição que mais de 80% dos deputados da bancada apoiam o afastamento de Dilma.