O coordenador da força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) na Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol, ressaltou o caráter internacional do esquema criminoso investigado na Petrobras. O grupo de procuradores fez hoje (17) um balanço da operação, no dia em que a Lava Jato completa três anos desde que foi deflagrada, em 2014.

Dallagnol disse que as informações obtidas por meio das colaborações premiadas celebradas entre os delatores e o MPF estão sendo lançadas como sementes. “Sementes em diversos lugares do Brasil, onde se desenvolverão novas investigações, e sementes no exterior, onde já estão sendo desenvolvidas várias investigações”, afirmou o procurador.

Como exemplo, o coordenador da força-tarefa citou as delações dos executivos do Grupo Odebrecht: “Para se ter uma ideia do quão internacional é esse esquema, [ele] corrompeu em 12 diferentes países e lavou dinheiro em outros 10”.

O chefe da força-tarefa defendeu, ainda, uma restrição ao foro privilegiado, ou seja, ao número de agentes públicos que têm direito a julgamento especial em decorrência das funções que ocupam. “Nós temos no Brasil um foro que alcança mais de 40 mil autoridades, o que é sem paralelo no mundo, quebrando a própria ideia de igualdade e de República”, afirmou o procurador.

Segundo Dallagnol, a operação terá um fim natural quando a força-tarefa tiver exaurido as possibilidades de investigação sobre os crimes cometidos na Petrobras. Para ele, no entanto, a punição dos agentes criminosos não é suficiente para finalizar o caso. “O fim [que o Brasil precisa] será o momento em que forem aprovadas reformas que mudem os incentivos que existem hoje no sistema político e que fechem as brechas da lei por onde escoam os recursos públicos e por onde os criminosos escapam, mudando o sistema de Justiça criminal para que a punição das pessoas que praticam crimes seja a regra, e não a exceção”, ressaltou.

Reação

Outro integrante da força-tarefa da Lava Jato no MPF, o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, disse que há um movimento de reação por parte daqueles que estão sendo revelados pela operação. “Temos boa parte do Executivo e do Legislativo contra as investigações. Temos órgãos que, em vez de nos apoiarem nos acordos de leniência, tentam impedir que essas empresas venham ao Ministério Público e fale o que elas cometeram de errado”, destacou.

Santos Lima lembrou que, ao final do ano passado, o Congresso Nacional tentou aprovar projetos de anistia a políticos e de responsabilização a procuradores. “Nós temos inúmeras medidas no Congresso Nacional tentando restringir, e não alavancar, as investigações criminais. Basta uma noite no Congresso e toda a investigação pode cair por terra”, afirmou o integrante da força-tarefa.

Edição: Amanda Cieglinski