A recuperação mais rápida do Brasil em relação ao restante do mundo levou o Ministério da Fazenda a fazer uma projeção conservadora para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Há duas semanas, o ministério divulgou previsão de crescimento de 5,2% para a economia brasileira em 2010, menos que os 5,8% estimados pelo Banco Central no Relatório de Inflação, apresentado em dezembro.
Em entrevista exclusiva à Agência Brasil, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, afirmou que a projeção leva em conta um cenário “realista” em relação à economia internacional. O descompasso entre o crescimento do Brasil e dos demais países, avaliou, fará com que o país “exporte” demanda doméstica.
“No quesito demanda doméstica, temos um crescimento até maior que o projetado pelo Banco Central, mas prevemos que nossas importações cresçam mais rápido por causa da recuperação da economia brasileira, ao contrário das exportações, que não devem crescer na mesma velocidade por causa do cenário mundial”, explicou.
Segundo documento divulgado na reunião dos ministros com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no final de janeiro, a demanda doméstica deve crescer 7,3% em 2010. No entanto, a demanda externa líquida terá retração de 2,1% porque as compras do exterior crescerão mais que as exportações. Subtraindo os dois números, o ministério chegou à taxa estimada de 5,2%.
Barbosa destacou que as projeções da Fazenda estão mais conservadoras até que as estimativas do mercado, que projeta alta de 6% a 6,5% neste ano. “Haverá um vazamento maior do crescimento da demanda doméstica do Brasil para o resto do mundo. Isso já está na nossa projeção, mas acho que não está nas previsões de alguns analistas financeiros”, afirmou.
De acordo com o secretário, a projeção menos otimista da Fazenda indica que o crescimento será sustentável, que não se reflete em pressões inflacionárias. “A economia não está superaquecida, apenas recuperando o nível pré-crise, entre 5% e 5,5%, que é sustentável”, afirmou. Para ele, a estimativa garantirá o crescimento do emprego e da renda do trabalhador em 2010, impulsionados, em boa parte, por programas de estímulo do próprio governo.
“A expectativa neste ano é de criação de 1,6 milhão de empregos com crescimento na massa salarial”, declarou. “Os setores que devem liderar esse processo no Brasil, e já estão liderando, são a construção civil, por causa do [Programa de Aceleração do Crescimento] PAC e do programa Minha Casa, Minha Vida, e o setor de bens de capital, que foi estimulado com programa de sustentação de investimentos.”
Segundo Barbosa, o crescimento de 5,2%, aliado ao cumprimento da meta de superávit primário de 3,3% do PIB, é suficiente para reduzir a dívida líquida do setor público para 40% do PIB no fim do ano. No entanto, a queda pode ser ainda maior dependendo do desempenho da economia brasileira. “Essa projeção leva em conta uma estimativa de crescimento conservadora. Se o crescimento for maior, nossa dívida cai ainda mais”, ressaltou.
A dívida pública saltou de 37% do PIB, em dezembro de 2008, para 43% do PIB no final do ano passado. Barbosa, no entanto, disse que o número reflete a alta do dólar durante a crise, que aumentou o valor em reais das reservas internacionais e reduziu a dívida líquida. Segundo ele, a comparação ideal deve levar em conta a proporção da dívida em agosto de 2008, que era de 41%. “A dívida do Brasil subiu dois pontos percentuais, uma das menores elevações pós-crise”, declarou.