O presidente da Federação dos Empregados Rurais Assalariados do Estado de São Paulo (Feraesp), Élio Neves, disse hoje (12) que falta no país uma política mais abrangente para compensar a eliminação de vagas que vem ocorrendo no setor sucroalcooleiro como consequência de mudanças estruturais e de manejo – entre elas a mecanização da colheita – e também por causa de restrições ambientais.
Segundo ele, nos últimos cinco anos, foram suprimidos 120 mil postos na colheita da cana-de-açúcar. As perdas, de acordo com Neves, são resultado do processo de mecanização adotado tanto para melhorar a produtividade com novas tecnologias como para adequar a atividade às restrições de queima da palha nas lavouras.
O presidente da Feraesp disse também que considera o Programa RenovAção insuficiente para reduzir o impacto do desemprego no setor. Para ele, a medida tem o benefício de permitir um melhor aperfeiçoamento profissional, mas é insuficiente. “Não chega a 10% do desemprego estrutural [do setor]”, observou. Para Neves, o programa é como “tapar o sol com a peneira”. O RenovAção é coordenado pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) e pela Feraesp.
Segundo o representante da Unica em Ribeirão Preto (SP), Sérgio Prado, a meta do RenovAção é formar 7 mil pessoas por ano para atuação dentro e fora das usinas. Os cursos estão sendo dados em municípios de seis regiões do estado de São Paulo (Ribeirão Preto, Presidente Prudente, Piracicaba, Bauru, Araçatuba, e São José do Rio Preto), em um sistema de parceria entre as associadas da Unica, a entidade, as empresas Syngenta, John Deere e Case IH e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Os investimentos alcançam R$ 2 milhões, dos quais US$ 500 mil provenientes do BID. Já passaram pelo treinamento cerca de 600 pessoas. Nessa etapa, estão sendo oferecidos oito tipos de cursos em núcleos do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Sesi) para motoristas canavieiros, operadores de colhedora, soldadores de manutenção, eletricista de tratores, eletricistas de caminhão, eletricista de colhedora, mecânica de trator e mecânica de colhedora.
De acordo com Prado, atualmente, a colheita de cana-de-açúcar emprega cerca de 140 mil trabalhadores. “Com os cursos, o objetivo é abrir um leque de opções”, disse Prado, referindo-se ao inevitável corte de trabalhadores à medida em que avançam as máquinas no campo e se aproxima a data de restrições para a queimada da palha, a partir de 2014.
Ele explicou que, para conter o desemprego, muitos serão treinados para atuar em empresas fornecedoras ou em companhias criadas em função do crescimento dessa atividade econ
ocirc;mica no interior. A Feraesp está fazendo um levantamento sobre as carências na oferta de mão de obra como pedreiros, costureiras e outros profissionais para a colocação daqueles que não serão aproveitados nas usinas e mesmo para empregar os familiares dos cortadores de cana sob risco de demissão.
“O confronto tão comum nas relações entre o capital e o trabalho deu lugar a uma aliança entre patrões e empregados”, assinalou Prado, lembrando que a ação está em sintonia com o que defende o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, quando destaca a importância do ciclo emprego-renda-consumo para fazer crescer a economia do país.