O risco de desindustrialização no país foi debatido hoje (30) por empresários, economistas e pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, na abertura do 7º Fórum de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), na capital paulista. Embora destaquem recentes avanços, como o controle da inflação e o crescimento do mercado consumidor interno, os representantes da indústria disseram temer a desindustrialização de setores afetados pelas importações. Já o ministro negou haver qualquer risco de desindustrialização e afirmou que, apesar de enfrentar a maior concorrência internacional, a indústria brasileira atravessa “um bom momento”.
Segundo Benjamim Steinbruch, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que também preside a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), o real valorizado e a taxa de juros elevada têm provocado distorções e prejudicado parte do setor produtivo nacional que não tem como competir com os produtos importados.
“[Se por um lado] talvez nunca tenhamos estado tão bem, [por outro] estamos vivendo um risco de desindustrialização”, afirmou Steinbruch, alegando que, em 2009, o déficit entre as exportações e as importações de produtos manufaturados atingiu US$ 35 bilhões, cifra que, segundo ele, deve aumentar para US$ 60 bilhões este ano.
“Grãos e minério mascaram os resultados da balança comercial, mas, na verdade, em relação àquilo que tínhamos interesse em desenvolver, ou seja, os manufaturados de valor agregado, estamos em sério risco”, concluiu Steinbruch dizendo que a tendência é de a situação piorar já que os Estados Unidos e a Europa ainda devem demorar a se recuperar da última crise econômica mundial.
O presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Pedro Luiz Barreiros Passos, reforçou que a concorrência externa representa um risco de redução dos empregos e que é necessário que o Estado ajude a indústria brasileira a se inserir em um outro patamar de competitividade, mas sugeriu que ainda é cedo para falar em desindustrialização. “Estamos sobre uma ameaça de perdermos empregos qualificados para os nossos competidores internacionais, e temos que ter em mente a necessidade de ajustes de rumo sem perdermos as grandes conquistas que tivemos em anos recentes”, disse.
Um estudo recentemente divulgado pelo Iedi indica que após cinco anos convivendo com superávits comerciais, a partir de 2008 a indústria nacional passou a acumular sucessivos déficits. No primeiro semestre deste ano atingiu US$ 14,3 bilhões, o maior desde 1989.
O ministro Guido Mantega admite que, durante a crise, houve um encolhimento do mercado de manufaturados em todo o mundo e o Brasil também sentiu isso. “Mesmo assim, eu não falaria num processo de desindustrialização, já que o nível de investimento da indústria vem crescendo e nosso mercado interno garante que a produção industrial vai continuar crescendo nos próximos anos”, afirmou.