Na avaliação da economista Sônia Rocha, autora dos livro O Brasil Dividido – Espacialização Alternativa e Pobreza (editora Publit) e Pobreza no Brasil: Afinal, de que se trata? (editora FGV), a ascensão econômica de 30 milhões de brasileiros, iniciada em 2001 e acelerada desde 2004, está diminuindo a desigualdade entre pobres e ricos.

Longe, no entanto, de ser efeito de uma política redistributiva deliberada, a desigualdade está diminuindo porque os estratos de mais baixa renda e de menor escolaridade se beneficiaram mais do que os segmentos mais ricos e escolarizados do crescimento econômico. As classes mais baixas são positivamente afetadas pelas políticas (distributivas) de ganho real do salário mínimo e pelas transferências de renda do programa Bolsa Família.

“São os mais pobres, as pessoas que ganham em torno de um salário mínimo, que estão ganhando mais. Todos estão ganhando, mas as pessoas mais qualificadas que recebem mais estão se beneficiando relativamente menos; quer dizer, o ganho delas é menor proporcionalmente ao que elas ganhavam antes”, explicou.

Para a especialista, que atualmente é pesquisadora do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS), o fenômeno é “uma evolução desejada” e diferente do que ocorreu por exemplo à época do chamado “milagre brasileiro” (1969-1973). “Em períodos que a gente teve crescimento elevado como nas décadas de 1960 e 1970, houve crescimento da renda para todos, um crescimento forte da economia, mas as pessoas mais qualificadas ganhavam mais. Quer dizer, havia um aumento brutal da desigualdade”, rememorou.

Sônia Rocha assinala que o atual momento também se caracteriza pelo aumento do consumo puxado pela oferta de crédito. “O volume e a facilidade de obter crédito tem permitido aumento do consumo, que, por sua vez, alimenta a roda da economia. Famílias na base da pirâmide da distribuição de renda, que não tinham acesso a certos tipos de bens, têm acesso muito fácil hoje”, lembra.