A falta de incentivos poderá fazer com que o país enfrente nos próximos anos problemas no abastecimento de etanol durante o período de entressafra da cana-de-açúcar. A previsão é do diretor técnico da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), Antônio de Pádua Rodrigues. “Não haverá nada de diferente do que ocorre hoje, e os problemas de estoque e de alta nos preços do etanol continuarão a ocorrer nos períodos de entressafra. Se não houver incentivos, ficaremos na mesmice de hoje, pelo menos, até 2015. Certamente não haverá oferta para atender a demanda”, disse.
Pádua defendeu o controle do consumo do produto no período da safra e a formação de estoques reguladores, como forma de diminuir os problemas de abastecimento e a alta do preço do etanol nos períodos de entressafra. “A falta de investimentos no setor nos últimos anos para aumentar a oferta de etanol, de maneira que a produção acompanhasse o crescimento da demanda a partir de 2008, vai levar a uma situação nos próximos três anos em que o crescimento da oferta não será suficiente para fazer frente ao avanço esperado para a demanda”, afirmou.
Na avaliação do diretor da Unica, é necessário que o governo desenvolva um planejamento para controlar o consumo no período da safra e incentive a formação de estoques para viabilizar o abastecimento em níveis satisfatórios durante a escassez do produto. “Esse é um mecanismo que visa a amenizar e não resolver o problema, uma vez que a demanda continuará a ser maior que a oferta, mas não há outro jeito. Contraindo a demanda na safra, evitando que os preços caiam muito neste período, dará maior disponibilidade do produto na entressafra”.
Segundo Pádua, entre 2005 e 2008, o volume de investimentos em novas usinas de etanol girou em torno dos US$ 60 bilhões. “Desde então os investimentos têm sido escassos, uma vez que não há garantia de rentabilidade. E investidor não bota milhões em projetos para produzir etanol se não houver garantia de retorno do que foi investido. É o mercado, sem garantia de rentabilidade não haverá recursos”.
O diretor criticou, ainda, a política de preços imposta pelo governo à Petrobras e que vem afetando diretamente o setor sucroalcooleiro, uma vez que os custos do setor continuam a subir enquanto o governo mantém comprimido os preços da gasolina nas refinarias a vários anos. “O produtor tem que repassar seus custos que são cada vez mais crescentes quase que diariamente, e são custos variados que vão desde a mão de obra à energia que é utilizada na fase de produção. Enquanto isso, a gasolina fica com o preço estabilizado nas refinarias da Petrobras por um tempo longo de mais”, disse.
Antônio de Pádua Rodrigues participou hoje (26) de seminário promovido pela Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes (Fecombustíveis), no Rio de Janeiro.