Sem bancos públicos ou privados, os moradores de São João do Arraial (a 200 km de Teresina, no Piauí) tiveram de improvisar e criar sua própria moeda: o cocal.
A pequena cidade, com pouco mais de 7.000 habitantes, foi buscar o sucesso dos bancos comunitários como fórmula para garantir pequenos financiamentos e fazer girar recursos na economia.
Em dezembro de 2008, foi fundado o Banco Comunitário dos Cocais, que criou a moeda a moeda paralela: o cocal.
Tudo começou com R$ 1.500 doados pelo Instituto Palmas (um dos pioneiros e referência em bancos comunitários) para circular na economia. Hoje existem 25 mil cocais circulando em São João do Arraial, que ajudam a aquecer a economia local.
“Esse valor permanece no mercado constantemente. Para nossa cidade, que é pequena, é um valor significativo”, disse o coordenador do banco, Mauro Rodrigues.
Com o sucesso da moeda paralela, hoje até os servidores municipais recebem até 25% dos salários em cocais.
“Essa lei municipal é uma forma de um servidor contribuir, além do trabalho, com a economia local. Tem gente que trabalha aqui e é de outras cidades, como os médicos, e assim também contribuem. Se pagasse tudo em real, muitos fariam o saque e iriam gastar fora. Assim, parte do que eles recebem gastam aqui”, explicou Rodrigues.
Como o dinheiro só é aceito na cidade, o gasto tem de ser feito necessariamente lá.
As moedas sociais são reconhecidas pelo Banco Central como complementares ao real, e são usadas pelos bancos comunitários para estimular a economia local.
Um cocal é igual a um real
O câmbio da moeda não varia: um cocal equivale a um real, e a moeda pode ser usada em qualquer compra. O banco comunitário tem uma casa de câmbio, para quem quiser trocar o dinheiro.
“Hoje 100%da população aceita. Se você perguntar a alguém na rua se tem 5, 10 cocais, dificilmente alguém dirá não. E isso é bom, pois quanto mais dinheiro localmente circula, mais emprego e renda gera na cidade”, afirmou.
Bancos pelo país
O Brasil tem dezenas de bancos comunitários e moedas paralelas, a maioria no Nordeste. Segundo Diogo Ferreira Rêgo, integrante da Incubadora Tecnológica de Economia Solidária da UFBA (Universidade Federal da Bahia), esses bancos fazem parte do movimento chamado economia solidária.
“As práticas são baseadas na gestão de serviços financeiros em comunidades empobrecidas, através de processos associativos locais. Elas estimulam processos de desenvolvimento comunitário, articulando diferentes mecanismos de inovação social, como uso das moedas sociais, constituição de circuitos de microcrédito solidário e instituição de espaços públicos de diálogo e aprendizagem”, diz.