O aumento do percentual de etanol anidro na gasolina, de 25% para 27%, foi autorizado pelo Governo Federal na tarde da última quarta-feira, 4. A alteração na mistura, que veio com um mês de atraso, vale a partir da próxima segunda-feira, 16.
A ministra da Agricultura, Kátia Abreu, afirmou que o aumento significará um bilhão de litro de etanol a mais consumido no mercado por ano. A decisão foi tomada em meio à expectativa do setor sucroalcooleiro, que aguardava um pacote de socorro para superar uma das piores crises da história das usinas. Contudo, alguns estudos alertam sobre a durabilidade dos motores dos veículos com a nova composição da gasolina.
De acordo com o comerciante Ilso Polidoro, diretor de oficina mecânica, a nova medida poderá prejudicar os veículos a gasolina. Ele explica que a calibração original dos motores movidos apenas a gasolina prevê o teor de 22% de álcool, com certa tolerância. “Podemos concluir que em um período de médio a longo prazo é muito provável o surgimento precoce de determinados problemas nos componentes mecânicos como, por exemplo, bomba de combustível, velas de ignição, bicos injetores, entre outros”, diz Polidoro.
O especialista ainda conta que o aumento do percentual de etanol anidro pode causar problemas em veículos a gasolina produzidos antes da década de 90 (carburados). Esses carros podem apresentar alterações em itens feitos com borracha como, mangueiras de combustível, além de plásticos e metais, que tendem a oxidar com o etanol. “Tanto os veículos mais antigos quanto os mais novos (injeção eletrônica) tendem a sofrer com o aumento de etanol na gasolina”.
Polidoro conclui que esses problemas, em tese, não deverão afetar os carros flex, uma vez que são fabricados para rodar com etanol ou gasolina, ou a sua mistura em qualquer proporção. Entretanto, aqueles que optarem pela gasolina poderão perceber um consumo mais elevado com o percentual a mais de etanol na gasolina. “Quanto maior quantidade de etanol na gasolina, o consumo médio tende a aumentar”, conta.
 Para que os condutores não tenham dúvidas ao abastecer seus veículos, a partir do dia 16, Polidoro esclarece a diferença entre cada tipo de gasolina. Segundo ele, a gasolina comum é o combustível bruto que sai das refinarias com 27% de etanol anidro. Ele não contém nenhum tipo de aditivo e é basicamente igual em todas as marcas. Por não ter aditivos, é o combustível menos recomendado para os automóveis porque não contém em sua fórmula substâncias que protegem o motor.
Combustíveis comuns, sem aditivo, deixam resíduos de combustão depositados sobre as válvulas de admissão do motor, comprometendo a mistura entre o ar e o combustível ao longo do tempo. Em médio prazo, a sujeira compromete o funcionamento do veículo. 
Já a gasolina aditivada também tem os 27% de etanol anidro, porém ela é composta por aditivos químicos que ajudam na limpeza do motor. Cada marca tem sua fórmula específica de aditivada, mas no geral, todas têm detergentes e dispersantes. O detergente desprende a sujeira e o dispersante faz com que ela seja quebrada para ser eliminada pelo sistema de combustão. Nos aditivos ainda estão anticorrosivos e antioxidantes.
Como manda a lei, a gasolina premium também tem os 27% de etanol anidro. Ela é composta por aditivos usados na gasolina aditivada que ajudam na conservação e limpeza do motor. A principal diferença é em relação à octanagem. Enquanto a comum e a aditivada têm 87 octanas (ou IAD – índice anti detonante), a premium tem 91 octanas. A octanagem é a medida de resistência da gasolina à queima espontânea que ocorre dentro da câmara de combustão.
“Com maior octanagem é possível que os motores operem com maiores taxas de compressão, o que se traduz em melhor eficiência. Mas é importante saber que a octanagem terá efeito significativo somente nos carros de alta compressão, ou seja, nos mais potentes, geralmente os esportivos de luxo. Nos demais veículos, o efeito da premium é imperceptível”, explanou Polidoro.