Alencar Burti, presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp), vê com preocupação a possibilidade de aumento de juros após a próxima reunião do Copom, que tem início nesta terça-feira (19/1).

“As indicações de que o Banco Central poderá iniciar um novo ciclo de elevação da Selic são motivo de grande preocupação, pois tal medida iria agravar a recessão e afetar duplamente as contas públicas, pela queda da arrecadação fiscal e pelo aumento dos encargos da dívida pública, sem ganho significativo – se é que haverá algum – sobre o combate à inflação. É um equívoco neste momento”, diz Burti.

“O desemprego ainda vai se agravar como consequência de todos os fatores negativos da economia, o que dispensaria um novo aumento da taxa de juros”, defende o presidente da ACSP.

Para ele, no cenário atual já há uma tendência de queda da inflação. “Parece evidente que a alta dos juros causaria mais danos do que benefícios neste momento. Além disso, existem claras indicações de que a inflação deverá desacelerar nos próximos meses, à medida em que se dilui o impacto da correção das tarifas e do câmbio, embora ainda esteja acima do desejável”, explica.  

Varejo

Alencar Burti também comenta as consequências da medida para o comércio. “Se para o varejo já está difícil, com a expectativa do aumento de juros, a dificuldade se torna ainda maior. E ainda com o temor de aumento de imposto, realmente é uma situação preocupante”.

Manutenção

A ACSP defende a manutenção da Selic. “O desemprego e a recessão já provocaram queda forte na confiança e no consumo das famílias, o que deverá produzir efeitos de combate e controle à inflação. Ainda serão sentidos os efeitos das altas praticadas – elas foram suficientes para reverter a escalada inflacionária e para produzir resultados em 2016 e em 2017. O fim dos grandes reajustes de tarifas públicas e do câmbio também corroboram nesta direção”, avalia Burti.     

BC e política monetária

Por fim, para o presidente da ACSP, o BC precisa reavaliar seu posicionamento. “Se é verdade que o Banco Central quer cumprir as metas de inflação, não é menos verdade que ele não pode ignorar os efeitos de sua atuação sobre a economia real e a sociedade, devendo pesar os custos e os benefícios de suas ações”.

Burti pondera, ainda, que a política monetária deve ser complemento do controle dos gastos públicos, e não substituta, “mesmo com a passividade do Executivo com relação às contas públicas”.