A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) divulgou hoje (19) projeção de superávit (exportações maiores que importações) de US$ 46,9 bilhões para a balança comercial em 2016. Em 2015, a balança brasileira encerrou superavitária em US$ 19,6 bilhões. O resultado foi o melhor desde 2011, quando foi registrado saldo positivo de US$ 29,7 bilhões.

Apesar da expectativa de ampliação do superávit, a AEB prevê que as exportações rendam menos este ano do que em 2015. A previsão é que as vendas externas atinjam US$ 187,5 bilhões, caindo 1,9% ante os US$ 191,1 do ano passado.

Recorde

As importações, no entanto, devem cair em ritmo mais intenso, compensando o recuo das exportações. A estimativa da AEB é que as compras do Brasil no exterior somem US$ 140,5 bilhões, 18% menos que os US$ 171,4 bilhões de 2015.

Na avaliação da AEB, 2016 terá um superávit “negativo”, a exemplo do que ocorreu em 2015. O saldo positivo da balança será em razão não de um aumento das exportações brasileiras, mas de uma queda nas importações causada pelo desaquecimento econômico.

A entidade destacou que, caso se confirme, a previsão de superávit de US$ 46,9 bilhões será um recorde histórico, superando os US$ 46,4 bilhões alcançados em 2006.

Retração

Para o presidente da AEB, José Augusto de Castro, todos os setores produtivos devem ser afetados por essa desaceleração da balança comercial. Destacou, entretanto, que já se começa a verificar uma leve recuperação.

Em bens de capital, a redução acentuada que se verificou nos cinco primeiros meses do ano já começou a amenizar. A AEB prevê queda de apenas 5,7% na importação desse item em 2016. Na exportação, a retração está concentrada em produtos básicos (-6,3%), em função da queda de preços, especialmente de minério de ferro e petróleo.

Nos produtos manufaturados, a expectativa é de alta de 0,2%, ajudada em grande parte pela exportação do setor automobilístico para a Argentina.

Segundo Castro, isso mostra que, “apesar da taxa de câmbio ter sido favorável no segundo semestre de 2015 e no primeiro semestre de 2016, as exportações não reagiram, mostrando que precisamos não apenas de taxa de câmbio, mas, principalmente, de reformas estruturais nas áreas trabalhista, previdenciária e tributária, além de investimentos em infraestrutura”, acrescentou.

Reformas

De acordo do com presidente da AEB, é preciso reduzir o famoso custo Brasil. “O câmbio não é suficiente para compensar a redução do custo Brasil.”  José Augusto de Catro explicou que devido a flutuação do câmbio não se pode dizer como ele estará no futuro, porque “ele oscila muito, gera insegurança”. 

Conforme Castro, as exportações brasileiras de bens manufaturados em 2015 e projetadas para 2016 têm valor igual ao de 2006, “dez anos atrás. É um cenário muito pesado para o Brasil. As reformas têm de ser feitas hoje. Não adianta pensarmos que a taxa de câmbio vai resolver, porque não resolve. Ajuda, mas não tem capacidade, sozinha, de resolver nosso problema atual.”

“O país continua dependente das  commodities (produtos agrícolas e minerais comercializados no mercado internacional. Só que nas commodities, não temos controle sobre preços, muito menos sobre quantidade. Temos de torcer para que a China continue bem, porque isso significa que a demanda por commodities está bem. Se houver qualquer imprevisto com a China, vamos pagar a conta”, concluiu o presidente da AEB.

* Colaborou Alana Gandra