As turbulências da economia nacional não cortaram o apetite dos empreendedores da região por negócios voltados para a alimentação fora do lar com foco em consumidores que buscam praticidade, cardápios diferentes e a união de gastronomia ao lazer. Um sinal disso é o crescimento anual de 10,9% no número de restaurantes, 9,8% na quantidade de padarias e 7% no volume de lanchonetes, bares e casas de suco.
Os índices têm como base informações relacionadas a empresas ativas da Jucesp (Junta Comercial do Estado de São Paulo) e se referem a dados sobre Araçatuba, Birigui, Penápolis, Andradina e Guararapes, observados entre 31 de julho de 2016 e a mesma data neste ano. No caso de restaurantes e padarias, a alta supera a média da expansão no número total de empresas de qualquer segmento na mesma região: 9,4%.
POTENCIAL
O mercado da alimentação fora do lar tem ainda um potencial de movimentar R$ 320 milhões em 2017 só na cidade-sede de região, segundo o estudo da IPC Marketing Editora. Porém, ter um estabelecimento para fisgar o cliente pelo paladar não basta. A sobrevivência das empresas ligadas à gastronomia depende da adaptação às mudanças comportamentais da sociedade e do planejamento, segundo o Sebrae-SP (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).
A gestora de projetos de alimentação fora do lar da entidade em Araçatuba, Solange Monteiro Moretti, lembra que os produtos e serviços do segmento atraem consumidores por trazer uma facilidade, o que colabora para a abertura de estabelecimentos do ramo. “As pessoas deixam de consumir um produto do vestuário, às vezes, mas não deixam de comer. A alimentação fora do lar, além de satisfazer essa necessidade física, tem sido objeto de lazer.”
COMPORTAMENTO
Outro fator que leva à procura por restaurantes, lanchonetes, bares, foodtrucks e padarias é a mudança no comportamento da mulher, segundo Solange. Por um tempo, grande parte das consumidoras permanecia em casa e cozinhava. “Hoje ela trabalha tanto quanto o homem, então essa demanda por alimentação fora do lar mudou.”
A gestora destaca que num mercado gastronômico tão amplo o sucesso do negócio está vinculado à capacidade do empresário em observar as preferências da freguesia, planejar e definir como será seu negócio. “Não adianta a pessoa falar que vai vender o que ela mesma gosta de comer, ela tem que estar atenta às necessidades do cliente e do mercado.”
Ela considera positivo empreendedores trazerem novidades para o mercado local, porém não se limitar a modismos. “É bacana trazer a novidade, mas não só isso, porque o negócio tem que ter consistência.”
ESPECIALISTA
Para ajudar empresários da gastronomia na região a fidelizar clientes e a aumentar o movimento, o Sebrae-SP promoveu uma palestra sobre inovação e tendências no setor de alimentação, ministrada pela especialista em tecnologia do Senai, Isabel de Brito. O evento aconteceu ontem, em Araçatuba.
Como o consumidor procura estabelecimentos gastronômicos para finalidades que vão além de simplesmente se alimentar, a palestrante lembra que as empresas do ramo também podem trazer ambientes com layouts mais agradáveis. “Esse espaço é um lugar onde as pessoas se confraternizam.” Privilegiar a qualidade em vez da quantidade também é uma forma de atrair o cliente. Isabel cita o exemplo de padarias que trabalham com o estilo de butique e agregam valor a seu estabelecimento com opções como pães artesanais.
SAÚDE
A busca por saúde e a procura por alimentos mais frescos, com menos açúcar e sódio, também podem inspirar mudanças no cardápio. Isabel aconselha ainda uma a preocupação com a comodidade do cliente, o que torna necessário o atendimento on-line e até mudanças nas embalagens para torná-las mais práticas. “A questão de sustentabilidade também tem contado muito. O consumidor pode preferir uma embalagem biodegradável ou que pode ser reutilizada.”
Novos nichos abrem oportunidades
Uma das tendências que os empreendedores podem apostar é a procura por uma alimentação saudável, de acordo com a gestora de projetos de alimentação fora do lar do Sebrae Solange Monteiro Moretti. Pessoas com dietas especiais para evitar o ganho de peso ou por necessidades ligadas a doenças como diabetes elevam a demanda por saudabilidade no cardápio.
O envelhecimento da população também é um fator que deve ser levado em conta pelo empresário do setor. Conforme estimativas populacionais da Fundação Seade, entre 2007 e 2017, o número de moradores da região administrativa com mais de 60 anos subiu 35%, saltando de 93.434 para 126.074. “A terceira idade é um público que exige um produto menos condimentado, acessibilidade e cardápio com letras maiores.”
O surgimento de nichos com estilos de vida que evitam o consumo de produtos de origem animal, como os veganos, o consumidor com cotidiano corrido que busca praticidade como delivery ou atendimento on-line e o aumento de pessoas que compram porções menores por morarem sozinhas também abrem oportunidades de inovação no cardápio e no serviço.
Solange explica que as empresas podem inovar tanto em tecnologia, como em mudanças relacionadas ao atendimento, à forma de servir e elaboração de novos produtos. “Tem que ter atenção ao que o cliente está procurando.”
Empresários se moldam ao público
Há 22 anos no mercado gastronômico, a empresária Ivone Trindade Silva, 53 anos, proprietária de três pastelarias em Guararapes, acredita que o fortalecimento de seu negócio se deve à sua atenção ao comportamento da freguesia. “A gente sempre teve foco em perceber o mercado, as oportunidades. Trabalhar com qualidade também é imprescindível.”
Para acompanhar a tendência da procura por uma alimentação saudável, ela introduziu opções com ingredientes diferenciados em seu cardápio que conta com aproximadamente 20 tipos de pastéis e mais uma variedade de 20 salgados, além de sucos naturais. “Você vai se adaptando na medida do possível. Começamos a diminuir a gordura, usar farinhas mais saudáveis.” Ela conta que trabalha com coxinha de mandioca para oferecer produtos menos calóricos, além de trazer opções de salgados feitos com farinha integral e com recheios mais magros, como a ricota.
MASSAS
O empresário Marcos Vinícius da Silva Ramos, 29, que possui um restaurante de massas em Birigui, conta que procurou orientações do Sebrae para que o empreendimento, hoje com três anos de funcionamento, pudesse crescer de forma organizada. “Eu comecei a reestruturar toda minha empresa desde então.” Ele conta que já fez capacitações sobre finanças e marketing.
Inicialmente, Ramos manteve um negócio de alimentação que atendia apenas empresas. Atualmente as opções mais procurada em seu restaurante são marmitas vendidas para o público em geral, com cardápio de massas elaborado por uma nutricionista. “Eu diria que o nosso diferencial é a qualidade e a rapidez. A vida hoje é muito corrida e o consumidor tem menos tempo para almoço. Por isso, o nosso atendimento é rápido.”