O consumo do governo federal, estados e municípios caiu em 2017 pelo terceiro ano seguido, segundo dados do Produto Interno Bruto (PIB) divulgados nesta quinta-feira (1º) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Apenas no ano passado, a redução foi de 0,6%.
De acordo com especialistas ouvidos pelo G1, a redução do gasto público contribui diretamente para puxar PIB para baixo ou frear a sua recuperação. Entretanto, esse impacto negativo pode ser compensado de maneira indireta, já que medidas de austeridade do governo têm efeito de incentivar o consumo das famílias e investimentos privados. (leia mais abaixo neste texto)
O IBGE considera “consumo do governo” os gastos com custeio da União, estados e municípios, ou seja, com pagamento de salário e alugueis, além de compra de mercadorias. Esse conta tem um peso de cerca de 20% no PIB. Para a calcular o desempenho do PIB, porém, o IBGE também leva em conta os investimentos públicos, que integram a chamada Formação Bruta de Capital Fixo.
No PIB trimestral, o IBGE não distingue o investimento de governo do investimento privado.
O G1 pediu ao IBGE o valor do impacto da queda no consumo do governo no resultado do PIB e aguardava resposta até a última atualização desta reportagem.
Sinal positivo
O economista e especialista em gastos públicos Raul Veloso diz que o impacto direto imediato da queda nos gastos do governo é puxar o PIB para baixo.
Entretanto, apontou ele, como o Brasil passa por uma grave crise fiscal, ao cortar gastos o governo incentiva as empresas a investirem, o que pode compensar o efeito do corte de despesas públicas no desempenho da economia.
“O corte de gastos é uma sinalização positiva para o mercado, pode levar a aumento do investimento privado no país, o que amortece a queda do consumo do governo no PIB”, disse Veloso.
“O efeito da queda do consumo do governo no PIB é praticamente nulo ou mesmo fica positivo, por melhorar o ambiente econômico”, avaliou o economista Julio Mereb, consultor da área de Economia Aplicada do FGV IBRE.
De acordo com ele, além das empresas, as famílias também sentem mais confiança na economia do país e tendem a consumir mais quando percebem esforço do governo em controlar as contas públicas.
Mereb apontou que, se o governo gastasse mais nesse momento de alta dívida e de déficit fiscal, passaria ao mercado o recado de que haveria aumento de impostos em algum momento para compensar essas despesas.
Consumo do governo cai desde 2015
O consumo do governo vem apresentando queda, em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, desde o primeiro trimestre de 2015. Segundo dados do IBGE, a despesa de consumo do governo caiu 0,6% no terceiro trimestre de 2017; 0,6% no segundo trimestre de 2017; e 0,5% no primeiro trimestre de 2017.
Já em relação ao trimestre imediatamente anterior, a redução no consumo do governo ocorre desde o segundo trimestre de 2016.
A queda nos gastos públicos é consequencia do ajuste fiscal promovido pelo governo para tentar frear o déficit nas contas públicas, registrado nos últimos anos. No ano passado, as contas do governo registraram um déficit primário de R$ 124,4 bilhões. Foi o quarto ano consecutivo de resultado negativo.