Benedita Célia do Rosário Melo trabalhou como professora por décadas, mas depois de aposentada, decidiu que gostaria de voltar à sala de aula, só que agora como aluna. Hoje, a universitária de 62 anos faz curso de direito em uma faculdade particular de Marília (SP). Para ela, parar de estudar nunca foi uma opção.

Célia, como é mais conhecida pelos colegas, é do Pará e mudou-se para Marília há três anos, com a intenção de oferecer melhores cuidados ao filho, que tem deficiência mental.

Em uma nova cidade e longe das salas de aula, Célia começou a fazer crochê para passar o tempo e ajudar na renda de casa. No entanto, sentiu necessidade de voltar a fazer faculdade porque, segundo ela, “estudar é o que gera dinheiro”.

“Fiquei ociosa porque na época eu trabalhava de manhã, tarde e noite, e aquela vida toda de professor que não é fácil. Hoje, eu tenho meu dinheirinho porque estudei”, lembra Célia.

Assim, quando descobriu que uma faculdade particular de Marília estava oferecendo bolsas de estudo de 50% para o curso de direito noturno, ela decidiu dar uma chance para a nova profissão.

A professora conta que nunca tinha pensado em direito especificamente, pois a sua área sempre girou em torno da educação. Mas quando já estava matriculada no curso, recebeu uma triste notícia que a fez ter certeza de que a atuar na Justiça era algo que gostaria de fazer para a vida.

“Meu tio no Pará foi esfaqueado e isso me deixou uma revolta. Eu já estava matriculada e falei que era isso mesmo. Quero ser advogada penal”, conta a estudante.

Célia conta que já fez amigos na faculdade e está indo muito bem nas matérias — Foto: Arquivo pessoal

Célia conta que já fez amigos na faculdade e está indo muito bem nas matérias — Foto: Arquivo pessoal

Apesar da correria do dia a dia, com o filho e os crochês, Célia faz questão de tirar um tempo para fazer as coisas dela. Para a professora aposentada, a ideia é fazer tudo do melhor jeito possível, independente da profissão ou idade.

“Um dos ‘defeitos’ que eu tenho é estudar muito. A minha filha diz ‘você já tá com essa idade’, mas eu gosto de estudar”, admite a professora.

Para ela, estar do outro lado na sala de aula é uma nova fase da vida. Ela diz que já fez amigos e que está indo muito bem nas matérias. E mostra que não existe idade para um recomeço.

“Tiro o meu dinheiro para pagar essa faculdade com muito sacrifício, então eu não vou me afetar com o que as pessoas vão pensar de mim. O importante é o que eu penso de mim”, completa.

*Colaborou sob supervisão de Mariana Bonora.