A revelação de uma história de dez anos atrás pode complicar a defesa de Daiane dos Santos no caso do doping por furosemida. Nesta quarta-feira, o jornal Correio do Povo trouxe reportagem em que Leda Ferri Nascimento, técnica e árbitra de ginástica artística, contou que a gaúcha tomou cápsulas do diurético Higroton em 1999, na véspera dos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg.

Ao diário gaúcho, a treinadora, que trabalhava com Daiane na época no Grêmio Náutico União, revelou que consumia o medicamento e que o repassou à ginasta. Leda, no entanto, negou que soubesse que o diurético era proibido pelas regras antidoping. “Não tinha noção nenhuma do que era um diurético, só sabia que ajudava a desinchar”, disse a técnica ao Correio. Daiane não teria sido flagrada em exame antidoping porque, segundo a reportagem, o diurético some do organismo de uma pessoa em até quatro dias após o consumo.

Ainda na matéria, a treinadora declarou que a CBG (Confederação Brasileira de Ginástica) soube do caso mais tarde, após a competição, quando recebeu uma lista dos medicamentos e substâncias consumidos pelos atletas que disputaram o Pan. Procurada pelo UOL Esporte, Leda não atendeu as ligações.

Ainda nesta tarde, o Grêmio Náutico União confirmou a história revelada por Leda, mas preferiu diminuir a questão. “Quando a funcionária Leda Ferri Nascimento recomendou o medicamento junto à atleta, o Departamento de Ginástica e o Departamento Médico do Clube não foram notificados”, disse o clube em nota oficial. “Ao tomar conhecimento da recomendação efetuada, o Clube advertiu a profissional”.

O GNU ainda fez questão de salientar que Daiane dos Santos jamais foi treinada por Leda. “Inicialmente é importante ressaltar que a funcionária Leda Ferri Nascimento não era técnica da ginasta Daiane dos Santos, fazendo apenas parte do Departamento de Ginástica”, explicou o clube, informando, porém, que a técnica continua no GNU como técnica de categorias de base”. Vale lembrar que, quando atuava pelo GNU, Daiane era treinada pela técnica Adriana Alves.

Ex-membro da CBG desconhece o caso

Entretanto, quem estava na entidade naquela época nega ter conhecimento do assunto. Eliane Martins, que na ocasião era membro do comitê técnico da CBG, declarou ao UOL que tal fato não aconteceu.

“Eu não me lembro disso. Se por acaso alguém ficou sabendo, foi alguma outra pessoa da CBG, não eu”, contou Eliane, que mais tarde viria a ser coordenadora da seleção permanente, iniciada em Curitiba em 2001. A dirigente explicou ainda que nem a entidade nacional nem a FIG (Federação Internacional de Ginástica) faziam exames antidoping naquela época.

Quando questionada sobre se a CBG recebia a lista de substâncias ingeridas pelas atletas, Eliane Martins também negou. “A gente recebia, isso sim, o livrinho do COB sobre as substâncias proibidas, mas era só”.

Daiane dos Santos, que quebrou o silêncio na última segunda-feira e falou pela primeira vez sobre a investigação da FIG (Federação Internacional de Ginástica) pelo doping por furosemida, ainda não se manifestou sobre as revelações de Leda Ferri Nascimento e do Grêmio Náutico União. No entanto, seu advogado, Cristian do Carmo Rios, adiantou ao UOL que a ginasta não se lembra do ocorrido.