A depressão é uma doença que vem assolando boa parte da população brasileira nos últimos anos. Segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), o Brasil é o país com mais pessoas doentes em toda América Latina.

Ao todo, são 12 milhões de brasileiros que convivem diariamente com angustias, medos e, principalmente, o preconceito que essa doença ainda carrega. A principal consequência da depressão é o suicídio. Hoje, o Brasil tem um número alarmante: a cada 100 mil pessoas, 6,5 cometem suicídio no país.

Segundo Wilson César Barros, psicólogo há oito anos, a junção dos dois métodos é o mais efetivo. “Clinicamente a depressão pode ser causada pela baixa produção de serotonina (neurotransmissor responsável pelo humor) no organismo ou algo momentâneo. A prescrição de remédios por parte de um médico psiquiatra e a terapia com um psicólogo ainda é a forma mais eficaz de tratamento”, disse ele.

Carregada de estigmas e preconceitos, a depressão é cada vez mais comum no convívio social. “A sociedade, antes de entender a doença, já rotula como frescura. É comum ouvirmos que quem tem depressão na verdade é falta de capinar um lote, pegar numa inchada, lavar uma louça. Ao invés de rotular, a sociedade deve estar pronta para ouvir”, afirma Barros.

O suicídio acarreta cada vez mais os jovens entre 15 a 29 anos. Segundo Shneidman, considerado o pai da suicidologia: ‘O suicídio é um ato definitivo para um problema temporário’.

A Associação Brasileira de Psiquiatria cita seis fatores que são determinantes para acarretar em suicídio. Desespero, desesperança, desamparo, depressão, delirium e dependência química.

“Às vezes um relacionamento que não deu certo, não passar em concurso ou vestibular, causam uma angustia muito grande. Tanto é que é comum falarmos que na realidade o suicida não quis se matar, ele queria apenas acabar com o sofrimento. Existe o fator da impulsão, mas a grande maioria dos casos vem de um processo prévio”, disse o psicólogo clínico que utiliza a Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC) como abordagem.

“Precisamos muito preparar a sociedade para diminuir preconceitos e estigmas dessas questões. Tem sido feito ainda coisas pequenas, mas existem trabalhos sendo realizados para acolher pessoas com esse quadro. Na região temos um trabalho desenvolvido pelas universidades. Além disso, é comum termos palestras para toda a rede de saúde para prepararmos esses profissionais”, disse Barros.

Para ele, estar preparado para ouvir pode ser mais acolhedor que propriamente falar. “Precisamos que os profissionais ligados a saúde saibam ouvir. Mas não só eles, a sociedade como um todo deve estar preparada. Observar o comportamento das pessoas ao redor pode ajudar muito. Um familiar, amigo, colega de trabalho pode estar passando esse processo de depressão. Não ter com quem falar, se abrir ou não estarmos preparados para ouvir pode piorar o processo de isolamento da pessoa com depressão”, ressalta Barros.

 

Redes sociais

Para o psicólogo, a rede social interfere nesse processo. “Hoje as pessoas se conectam e sabem da vida de artistas, famosos, atletas. Muitos têm mais de mil amigos na rede social. Isso pode ser bom para aproximar as pessoas. Mas ao mesmo tempo causa isolamento entre os jovens. É como beber água, se tomarmos em excesso iremos eliminar sais minerais e nutrientes importantes. Se bebermos pouca água teremos um quadro de desidratação. Por isso, o equilíbrio é importante”, disse Barros.

De acordo com o profissional, algumas séries, como a ‘Os 13 por quês’, disponível na Netflix, pode ser perigosa. Barros diz que durante o sucesso da série o número de pesquisas no Google de como cometer suicídio aumentou consideravelmente. “Muitos acham importante, pois o seriado coloca um assunto na sociedade para ser debatido. Porém, se não existir uma orientação isso pode ser um fator que motiva os jovens. Assistir a série discutindo com adultos, pais e profissionais pode trazer o problema à tona e haver um debate saudável. Mas jogar esse tema, com um jovem sozinho, fechado em um quarto, pode se apresentar como uma solução para algum problema que ele se identifica”, finalizou Barros.

Serviço

Existe no Brasil um serviço gratuito de atendimento e amparo chamado CVV (Centro de Valorização da Vida). Para ter acesso aos atendimentos oferecidos pelo serviço basta ligar 188 ou acessar o site: www.cvv.org.br.

Wilson Cesar de Barros é psicólogo há oito anos e faz parte de grupos de prevenção ao suicídio das universidades da região (Pedro Reis/JR)