Depois de estrear em mostras de São Paulo, o filme “À Prova de Morte”, de Quentin Tarantino, entra em circuito nacional a partir de hoje. Chega com três anos de atraso. Lançado em 2007, nos EUA, foi feito sob medida para o projeto Grindhouse, que exibia, ainda, “Planeta Terror”, do amigo Robert Rodriguez. Populares no País durante os anos 1970, essas sessões duplas traziam produções baratas de horror e pancadaria. Por isso, não espere um primor estético. É propositalmente tosco, com cortes bastante bruscos. Se não fosse assim, não seria considerado um legítimo Grindhouse.

“À Prova de Morte” (Death Proof) do título se refere aos carros dos dublês, construídos para protegê-los nas cenas perigosas. Dublê Mike (o sumido Kurt Russell) tem um desses. Decadente, ele usa seu carro para preservar a vida de quem está no volante – ou seja, a dele. O mesmo não vale para caronas ou passageiros de outros veículos. Ele tem uma tara: segue belas mulheres, também motorizadas, para depois matá-las com sua arma sobre quatro rodas. É o argumento que Tarantino precisa para destilar seu arsenal de referências de filmes B e terror trash.

As cenas de perseguição na estrada são o ponto alto. Na realidade, são duas grandes perseguições, em momentos distintos desse road movie: na primeira parte, a mais aterrorizante, que se passa na penumbra da noite; e na segunda, à luz do dia, quando a trama descamba para um “Corrida da Morte” (Death Race 2000, cult de 1975, com David Carradine). Na segunda metade do filme, acontece uma reviravolta e os papéis são invertidos. Há outros ingredientes da obra tarantiana: diálogos longos, mulheres fortes, uma ponta do diretor e trilha sonora bacana. Note a dança erótica que a insinuante Butterfly faz para Mike, ao som de “Down in Mexico”. É Tarantino puro, em versão despretensiosa. Se é que isso seja possível.