Vinte e quatro de setembro. O desfile de aniversário da cidade já vai começar. Crianças, homens e mulheres se organizam em frente ao antigo Grupo Escolar de Santa Mercedes, hoje, Escola Municipal Presidente Castello Branco. As balizas se posicionam. As bandeiras nacional e estadual são levadas por duas alunas. Cada professor organiza sua classe em filas. São muitos estudantes. Há o Grupo Escolar de Terra Nova, as escolas isoladas dos bairros como Três Botecos, Nova Bilac, Colônia Dourado, Itaim e Yoshimura.
Neste tipo de cerimônia a grande atração é o carro alegórico. Carrocerias de caminhões e tratores, enfeitadas com tecidos, transportam pessoas com trajes e elementos típicos retratando aspectos da vida local. Há carros que apresentam os tipos de lavoura desenvolvidos na cidade, outros mostram a ascendência dos pioneiros, como o que transporta meninas japonesas vestidas com quimonos. Neste ano um dos veículos leva um bolo gigante (muitos mercedenses adorariam que fosse real) com o número 20 fixado no topo, ao redor dele, crianças sentadas usam chapeuzinhos de aniversário.
Jogadores dos times de futebol participam uniformizados. Faixas e cartazes de congratulações estão dispostos nos carros alegóricos e nas mãos dos estudantes. Tudo pronto. Tem início o desfile pela terra vermelha da Avenida Brasil. Os espectadores acompanham o percurso lado a lado até o ponto final.
Vinte e quatro de setembro de 2009. Santa Mercedes completa 61 anos de emancipação político-administrativa. Os aniversários das cidades interioranas são comemorados com rodeios e feiras agropecuárias. Este tipo de festa envolve o gerenciamento de shows, queima de fogos, montarias, praça de alimentação, parque de diversões, exposição comercial, segurança.
Se hoje é possível analisar e até mesmo comparar é porque temos o conhecimento dos fatos passados. Um costume com mais de 40 anos pode ser relatado, pois não ficou guardado na memória das pessoas que o vivenciaram. Ele foi transmitido oralmente pelos moradores, documentado em livros e revistas por pesquisadores e ficou registrado por meio de fotografias. Para Carlos Lemos, autor do livro O que é Patrimônio Histórico, “registrar é sinônimo de preservar, de guardar para amanhã informações ligadas a relações entre elementos culturais que não tem garantias de permanência.”.
Outra cidade poderia ser usada como exemplo. Escrevo sobre Santa Mercedes, porque além de ser minha terra natal, pesquiso seus registros fotográficos. Meu objetivo com este texto é suscitar o seguinte questionamento: O que nós, cidadãos, temos feito para contribuir com a preservação da história de nossas cidades, do nosso Estado e por que não dizer do país? O conhecimento ou não de nossas origens e tradições no futuro depende do caminho escolhido hoje.
Fonte: A História de Santa Mercedes. Fernando Perli, 1999. Arquivo de Izidoro Vieira, 2007. Histórico de Santa Mercedes. Carla Priscila Alves Braga, Claúdia Regina Braga Tenório, Sônia Cristina Alves Braga, 1995. O que é patrimônio Histórico. Carlos Lemos, 2006. Revista Município em Foco em Santa Mercedes, ed. Camargo de Arruda Ltda, São Paulo, 1968.
Letícia Pinheiro – moradora de Santa Mercedes
(letícia_pinheiro@yahoo.com.br)
