“O lixo é rico e ninguém sabe”. Essa é a visão de Pedro Dias Ferreira, ‘seu Pedro’, da Sucatolândia. Aos 67 anos de idade, ele vive a 32 anos da coleta de lixo reciclável e da venda desses produtos.

“Olha esse pedacinho de papel aqui, essa caixinha. Nesses anos todos aprendi que isso é uma fonte de renda. Aprendi que se eu pegar esse lixo aqui posso fazer dinheiro com ele”, disse.

Aposentado por idade, mas não pela vitalidade, seu Pedro não consegue parar. Com os olhos marejados, ele se emocionou com a visita da equipe de reportagem do JR e Portal Regional, na tarde de ontem, 15. “Chega sábado e domingo, eu venho para o barracão. Fico sozinho olhando tudo aqui. Daqui saiu a renda para criar minhas cinco filhas. Da reciclagem eu constitui família”.

Emocionado, não consegue completar a frase quando conta do início de tudo. “No começo o pessoal desconfiava muito da gente. Até pela Polícia já fui investigado. Lembro que quando comprei minha primeira caminhonete para a reciclagem, todo mundo achava que eu estava envolvido com drogas. Foi difícil, era eu, minha esposa e um carrinho de mão. Andava a cidade toda, dia e noite recolhendo material reciclável”. Neste momento a entrevista é interrompida. Seu Pedro não conseguiu segurar as lágrimas.

“Graças a Deus e com muita luta a gente conseguiu ter o que temos hoje. Não é muito, não ganha tanto dinheiro. Mas criei minhas filhas e consigo manter a firma aberta”, disse. Ao perguntado do que significava a reciclagem para ele, a entrevista é novamente interrompida por ele. Hoje, a empresa de reciclagem dele conta com 10 funcionários.

Seu Pedro ressalta que a crise dos últimos anos não afetou tanto o seu comércio. “Todo mundo fala de queda, crise. Eu não senti isso. Não consegui guardar dinheiro no ano passado. Mas lixo não acaba, o lixo não para. Quando comecei achava que um dia o lixo ia acabar. Mas cada dia que passa cresce mais. Quando a gente trabalha com os pés no chão, não afeta tanto”, disse seu Pedro.

Consciente da importância da coleta de lixo faz uma ressalva. “Se não fosse a gente, esse lixo ia para onde? Ninguém sabe. Isso é muito bom para poder limpar o meio ambiente. Acho que tínhamos que ter mais incentivos para aquilo que a gente faz. Poderíamos ser isentos de impostos. Olha o tanto que ajuda o meio ambiente fazendo esse trabalho aqui. Se não tivesse tanto imposto, eu poderia contratar mais dois ou três funcionários”, disse o simples, mas sábio senhor.

A expectativa dele é que em 2020 não vai ser um ano tão próspero. Mantendo a esperança que poderá melhorar. “Temos que ter fé que possa ser um ano melhor. Em 2019 não foi tão bom. Só nos últimos meses tivemos uma melhora”, finalizou.

Atualmente, a maior carga de material reciclável que sai das mãos dele vai para Santa Catarina. Segundo ele, em média, por mês saem quase 200 toneladas de material reciclável.