Alfredo Enéias Gonçalves D’Abril, professor aposentado da Instituição Toledo de Ensino (ITE), está coberto de razão, quando afirma que discursar em público de improviso e corretamente não é obra para qualquer mortal. Alerta que é necessário ter o domínio das palavras bem escolhidas e conectadas pela destreza de um indefectível e ligeiro raciocínio.

Questão de segurança
Afirma que o homem público que titulariza uma função de comando, geralmente se acautela num assessor que cuida com antecedência do discurso sobre o tema que irá discorrer em alguma solenidade. “Ninguém gostaria de ser pego de surpresa por um equívoco, facilmente evitado, se as palavras fossem lidas e não livremente pronunciadas. Tomado esse cuidado, elimina-se a possibilidade de gafes e vexames. Mas nem sempre é assim”.

Agulhas no palheiro
D’Abril salienta que são raros os discursos da presidente da República que primam pela transmissão de ideias límpidas e conexas. A maioria de seus discursos é de improviso seguindo-se a facilidade de descrever passagens confusas e hilárias. Mesmo quando a oratória é lida, como foi na ONU, às vezes deixava de ler e improvisava descrições absurdas, como aquela dita ao presidente dos Estados Unidos que a “pasta quando sai do dentifrício não volta mais ao dentifrício”. Os colecionadores de suas “pérolas” relacionaram várias delas na internet.

Sobram pérolas
Algumas delas: “Nós não vamos colocar uma meta. Nós vamos deixar uma meta aberta. Quando a gente atingir a meta, nós dobramos a meta”. Outra: “A autossuficiência do Brasil sempre foi insuficiente”. Uma terceira: “O meio ambiente é sem dúvida nenhuma uma ameaça ao desenvolvimento sustentável”. E mais outra: “Eu quero adentrar pela questão da inflação e dizer a vocês que a inflação foi uma conquista desses dez últimos anos do governo do presidente Lula e do meu governo”.

Uma atrás da outra
Também não passou despercebida mais esta pérola: “A avaliação nossa é que houve, de dezembro a fevereiro, um fenômeno em cima da Bolívia, entre a parte sul, se eu não me engano, centro e a parte norte ou sul, a centro eu tenho certeza, a sul eu esqueci se é sul ou se é norte”.

Português e matemática
Nem esta: “Em Portugal, o desemprego beira 20%, ou seja, um em cada quatro portugueses estão desempregados”. Este último trecho avulta a conveniência do discurso ser preparado com antecedência. Nas 12 palavras e nos três números empregados, a presidente cometeu atentado ao vernáculo numa gritante incorreção de concordância e elementar erro de cálculo. E arremata: “ela está apenas na fase de aquecimento, porque não haverá renúncia ou bom resultado no processo de impeachment desejado por quase 90% dos brasileiros”.

Verdadeiro anjo
Anteontem, o deputado Eduardo Cunha reiterou: “Não tenho falha nenhuma, sou inocente”. Segundo o presidente da câmara federal, sua atuação no setor privado lhe rendeu lucro entre US$ 2 milhões e US$ 2,5 milhões, em dois anos. “[Tem] gente dizendo que tenho bilhão de dólar, que sou milhardário. (…) Se você trabalhar 48 meses e consegue obter com operações de lucro este montante não é nada de mais. Fazendo a coisa correta, óbvio”.