Um dos questionamentos mais recorrente feito pela população em suas visitas aos consultórios dos dentistas tem a ver com a goma de mascar. Além de algumas pessoas terem a tradicional dúvida se mastigar chicletes propicia o surgimento de cáries, ainda há dúvidas se o hábito pode causar
DTM (Disfunção Temporal Mandibular) ou se é eficaz contra o mau hálito.

Para responder a estas dúvidas, o Dr. Márcio Passos, dentista especialista em ATM (Articulação Temporal Mandibular) e Dor Orofacial traz informações valiosas para esclarecer mitos e verdades.

O hábito de mastigar chicletes causa DTM?

A literatura médica sobre essa questão é bastante escassa. O que se tem como certo é que pacientes que apresentam outros hábitos somados a mastigação prolongada da goma da mascar podem apresentar DTM. Contudo, isto não quer dizer que pacientes saudáveis que tenham apresentado DTM com o consumo da goma de mascar.

Diversos estudos realizados com pacientes sem sinais e sintomas de DTM, com diferentes protocolos de uso da goma de mascar, chegaram a conclusão que após os testes não houve sinais e sintomas que levassem ao diagnóstico da DTM. Logo, não mostraram evidências que sustentem a hipótese de que goma de mascar como a causa da DTM (CHRISTENSEN et al., 1996).

Em vez de causar problemas mastigatórios, a goma de mascar pode atuar como auxiliadora neste quesito. De acordo com alguns autores que avaliaram a mastigação em crianças com o uso da goma de mascar, verificaram que estas possuem um padrão mastigatório característico que difere dos adultos (HAYASAKI et al., 2003; KUBOTA et al., 2010) e que o ato de mastigar desde a primeira dentição é importante para o desenvolvimento do sistema estomatognático.

Goma de mascar pode ser usado para tratar a halitose?

As gomas de mascar, culturalmente, têm sido utilizadas como mascaradoras do mau hálito. Entretanto, o conceito de que o odor do flavorizante da goma é que seria o responsável pela eventual redução da halitose não é verdadeiro. Na verdade, é o aumento da salivação proporcionada pela mastigação da goma que diminui a halitose, pelo ato de lavagem proporcionado pelo fluxo salivar.

Sabe-se que a goma de mascar pode ser uma auxiliadora no tratamento de diminuição de fluxo salivar, sendo indicada como estimulante salivar. Mas para isto a goma de mascar não deve conter sacarose. É importante salientar, que o uso da goma de mascar sem açúcar não deve substituir a higiene oral com escova, creme dental e fio dental.

Para este fim, os estudos apontam que o recomendado é o uso da goma de mascar por 20 minutos, 4 vezes ao dia, principalmente em situações em que momentaneamente, a higiene oral com escova, creme dental e fio dental não puder ser realizada ou após a ingestão de alimentos adocicados (A.D.A., 2007).

Goma de mascar causa cárie?

Qualquer alimento muito açucarado consumido sem a devida higiene oral tem o potencial de causar cáries. Mas a questão não se trata do alimento em si, mas principalmente do descuido com a higiene bucal.

Sendo assim, a visão atual do mascar chicletes por crianças, adolescentes e adultos pode ser revista, de outra perspectiva, e deve considerar os protocolos citados na literatura odontológica para o uso da goma de mascar sem açúcar como coadjuvante a higiene oral.

Hoje existem inclusive gomas de mascar funcionais sem açúcar que podem devolver ao dente os minerais perdidos tanto pela ação dos ácidos produzidos pelas bactérias que causam cárie, como pelos alimentos ácidos que causam a erosão e podem ser consideradas como coadjuvantes para a boa saúde bucal.