Cientistas americanos dizem estar mais próximos de criar uma célula sintética após anunciarem a criação de um novo tipo de bactéria a partir de um genoma modificado.
A equipe comandada pelo cientista J. Craig Venter, conhecido expoente no campo da biologia sintética, transferiu o genoma de uma bactéria para uma célula de levedura, modificou o genoma e em seguida o transferiu para uma outra bactéria.
No estudo, publicado na edição mais recente da revista científica Science, os pesquisadores do J.Craig Venter Institute afirmam que a transferência de um genoma fabricado pelo homem para uma célula de bactéria abre caminho para a criação de um organismo sintético.
Segundo os cientistas, o transplante de um genoma sintético para uma célula de bactéria pode resultar na criação de bactérias programadas para desempenhar funções específicas – como digerir material biológico para a produção de combustível.
Rejeição
“Nos preocupávamos que as diferenças entre o DNA da bactéria e o DNA da levedura seriam uma barreira intransponível, impedindo a transposição dos genomas”, afirmou à BBC o cientista Sanjay Vashee, um dos autores do estudo.
“Mas agora sabemos como fazer isso”, disse ele.
Segundo Vashee, as bactérias possuem um sistema imunológico que as protege de DNA alheios, como os materiais genéticos de vírus.
A equipe conseguiu bloquear esse sistema imunológico, formado por proteínas chamadas de enzimas de restrição, que atacam pontos específicas do DNA invasor.
As bactérias são capazes de defender seus próprios genomas desse processo ao anexar compostos químicos – conhecidos como grupos metílicos – aos pontos em que as enzimas atacam.
Na pesquisa, os cientistas modificaram o genoma da bactéria Mycoplasma mycoides quando este ainda estava dentro da célula de levedura. Em seguida, eles desativaram a ação das enzimas de restrição usando compostos metílicos, antes de transplantar o genoma para outra bactéria.
De acordo com Vashee, o experimento é um avanço significativo nos esforços para criar uma célula sintética.
Os esforços no campo da biologia sintética com o objetivo de criar vida artificial, entretanto, são polêmicos.
Críticos na comunidade científica temem que a tecnologia ligada à modificação genética de organismos possa cair em mãos erradas.
Segundo Vashee, no entanto, a equipe de Venter “trabalha com bioeticistas e com setores da opinião pública para incentivar a discussão e a compreensão sobre as implicações sociais do trabalho do grupo e da área de genomas sintéticos”.