Depois de apertar o botão de enviar, você sabe o caminho que o e-mail percorre entre a sua caixa de saída e a caixa de entrada do destinatário? Já parou para pensar no destino de suas informações a cada vez que posta um comentário em um blog, manda um SMS, twitta ou deixa um recado no Facebook? Segundo alguns especialistas, você deveria se preocupar.

“Toda vez em que fazemos um upload na web, perdemos o controle sobre a informação”, disse Roxana Geambasu, pesquisadora da Universidade de Washington e selecionada pelo Google Fellowship Program como expoente na área de computação em nuvem.

Ela diz que quando mandamos um e-mail, não temos a menor ideia de qual será o destino final daquela informação. Mesmo que você apague a mensagem, quem recebeu pode guardá-la por tempo indeterminado. Fotos divertidas de amigos fazem sucesso no Facebook, mas podem reaparecer em uma entrevista de emprego. Você pode apagar os SMS que envia, mas nada garante que quem os recebeu fez o mesmo.

Essa lógica vale para todas as ferramentas de comunicação online. E a computação em nuvem a torna ainda mais presente. Afinal, a tendência é que os dados deixem de ser armazenados em nossos computadores e passem a ser guardados em servidores espalhados por aí.

“Todo mundo está usando a nuvem. É muito bom, funciona, é prático. Mas é bom lembrar que direta ou indiretamente, pode haver problemas. As pessoas estão esquecendo os riscos”, explica Renato Opice Blum, advogado especialista em crimes digitais.

Segundo Blum, a atual legislação brasileira não determina como nem por quanto tempo os provedores guardarão essas informações. O texto do PL 84/1999 (a Lei Azeredo), que legisla sobre os crimes na internet, diz apenas que o provedor de acesso deve armazenar os dados de conexão dos usuários por três anos. Com essas informações nas mãos, os provedores ficariam incumbidos de delatar caso seus clientes cometessem um crime – mesmo se fosse apenas baixar uma música na rede.

DELETADO PARA SEMPRE

O que Roxana e seus colegas na Universidade de Washington propõem é uma alternativa completamente diferente: uma ferramenta que tira do Estado o controle das nossas informações. Com o Vanish, aplicativo desenvolvido por eles, as mensagens que enviamos pela internet são codificadas e, depois de um tempo predeterminado, nunca mais são reveladas.

“Se você se preocupa com privacidade, a internet hoje é um lugar muito assustador. Se as pessoas entendessem onde e como os e-mails são guardados, elas seriam mais cuidadosas ou não os usariam”, diz Tadayoshi Kohno, professor de Ciências da Computação e um dos pesquisadores que desenvolveu a ferramenta.

POR ONDE ANDAM SEUS DADOS

Segundo a assessoria do Google, os e-mails no Gmail ficam guardados enquanto o usuário mantiver a conta ativa. Os arquivos ficam em servidores “espalhados em pontos estratégicos do mundo”, em localização não especificada. A Microsoft deu respostas parecidas.

Os e-mails no Hotmail ficam guardados em servidores fora do País, e podem ser acessados apenas pelo dono da conta – mas, em casos de investigação criminal, a empresa consegue “verificar o conteúdo de uma conta mediante mandato policial”. Segundo a Microsoft, “uma vez excluído da lixeira, o usuário não conseguirá mais ver o e-mail”. O Yahoo não respondeu às perguntas. “Essas questões têm relação direta com políticas de privacidade”, justificou a assessoria.

Em relação às mensagens e ligações para celular, o tráfego dos nossos dados também não fica muito claro. A Anatel especifica que as operadoras têm de utilizar “todos os recursos tecnológicos para assegurar a inviolabilidade do sigilo das comunicações”, mas não diz como isso pode ser feito. A agência também determina que os registros de ligações (efetuadas e recebidas, com data, horário, duração e valor) fiquem armazenados por cinco anos.

As operadoras Tim, Claro, Vivo e Oi fala mais sobre o assunto. A reportagem questionou como funciona o envio de SMS entre o seu celular e o da pessoa para quem você mandou a mensagem e também como e por quanto tempo ficam armazenadas os registros de ligações. As quatro operadoras afirmaram que não divulgam essas informações. Tanto a Tim quanto a Oi justificaram motivos “estratégicos”.

Por não sabermos ao certo como nossos recado são guardados, é preciso prestar atenção à maneira como usamos a internet. Será que, afinal, uma ferramenta para apagar de vez nossas pistas na rede é realmente necessária?