Luciana Moliterno, gerente de restaurante, busca em uma antiga gravação de dança do ventre a imagem de uma mulher que ela já foi. “Eu choro de falar da dança. Esta sou eu.” Ela conta que, naquela época, ela tinha dor de cabeça esporadicamente. “Tomava um analgésico e passava.” Há um ano, as dores de cabeça se tornaram diárias e aos poucos, Luciana parou de dançar, de trabalhar, de dirigir, e até de sair de casa. “Eu choro de desespero, de falar: ‘Meu Deus eu não consigo ir até a farmácia da esquina!'”

Os médicos diagnosticaram enxaqueca crônica, recomendaram terapia, diferentes tratamentos e claro, muitos remédios. “Uns dez comprimidos por dia, ou mais”, contou Luciana.

A intensidade varia, mas segundo uma pesquisa realizada pelo Ibope que ouviu 1.400 pessoas em 9 capitais do país, mais da metade dos brasileiros (62%) sentiram dor de cabeça no último mês. É a queixa mais frequente de dor.

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Existem vários tipos de dor de cabeça, mais de 150 tipos

“Existem vários tipos de dor de cabeça, mais de 150 tipos”, explicou a diretora da Sociedade Brasileira de Estudos para a Dor Fabíola Peixoto.

Em Salvador, é essa dor que mais afeta a disposição dos baianos: 71% deles disseram que a dor de cabeça atrapalha o humor.

Nem a paisagem convence Luciane a sair de casa quando ela tem enxaqueca. “Você com dor de cabeça não quer ver ninguém, não quer sair pra canto nenhum.”

 

Em quase todas as capitais pesquisadas, a dor de cabeça é a que mais atrapalha o sono

 

Basta anoitecer em Brasília para que se aproxime a principal vilã do sono. “Nunca passei nem uma semana sem ter dor de cabeça”, contou a advogada Daniela Queiróz.

Em quase todas as capitais pesquisadas, a dor de cabeça é a que mais atrapalha o sono. Em Brasília, esta é queixa de quase metade da população (48%).

“Eu sempre procuro estar dentro do quarto fechado para não ter nenhuma interferência de barulho e também luminosidade”, explicou Daniela.

A pesquisa ainda revelou que o brasileiro demora a procurar um médico. Segundo o neurologista Daniel Ciampi de Andrade, “eles tentam se virar, tentam resolver por si sós”. Ele explica que, tipicamente, quando o brasileiro sente uma dor, a reação é “passar na farmácia e comprar um remedinho”.

A cada dez medicamentos vendidos, três são analgésicos, segundo um levantamento da Sociedade Brasileira para Estudos da Dor. Mas no caso da dor de cabeça, tomar esses analgésicos com frequência pode agravar ainda mais o problema.

“Existe um tipo de dor de cabeça da pessoa que usa muito analgésico. Se você está usando demais a medicação e não está tendo efeito, talvez não seja a medicação ideal e a gente tem de procurar ajuda”, explicou Andrade.

No país inteiro, Belém é a cidade em que as mulheres ficam mais mal humoradas por causa da cólica menstrual (20%).

Em Belo Horizonte, a dor nas costas é a que mais prejudica os mineiros no trabalho (37%). Dona Conceição Pereira era professora em uma pré-escola. “E criança pequena é colo, é colo direto! Então é um em um braço e outro no outro.” O esforço cobrou seu preço, e há quatro anos ela luta contra as dores na coluna. “Nos exames não constava a dor tão grande que eu sentia, não aparecia nos exames.”

Para evitar ou diminuir uma dor de coluna, Fabíola indica procurar um especialista toda vez que a dor tiver incomodando a qualidade de vida. “Mas, sozinho, o paciente já pode tomar algumas atitudes”, afirma.

Segundo a fisioterapeuta Patrícia Mazoni, “umas adaptaçõezinhas” de postura diminuem a dor e a tensão, como aproximar o teclado do computador, não deixar a cadeira muito baixa, evitar que os pés fiquem pendurados e alinhar o monitor à visão.