Setembro surpreendeu os meteorologistas. No Sul do país, foi recorde dos últimos 30 anos a combinação de muita chuva, ventos fortes e frio intenso. Em plena primavera, mais de 24 horas de frio no Rio Grande do Sul. Na madrugada passada em Bagé, termômetros marcaram 0°C. À tarde em Uruguaiana, mesmo com sol, 1°C. E não é só: vem mais chuva por aí, o que pode piorar a situação em áreas alagadas. Com os temporais desta semana, cerca de 4,5 mil pessoas tiveram que deixar suas casas. Duas morreram.

Também em Santa Catarina, os rios estão cheios. Uma pessoa morreu ao atravessar uma ponte em Campo Belo do Sul. No Vale do Itajaí, não para de descer água. Setembro foi o mais chuvoso na Região Sul e no estado de São Paulo nos últimos 30 anos. E o frio chegou na capital paulista. A temperatura baixou 12 graus de segunda (28) para esta terça-feira (29).

A primavera é uma estação de transição, que alterna características do inverno e do verão. E essa instabilidade deve continuar principalmente porque nesse ano o clima sofre a influência do El Niño. O fenômeno é consequência do aquecimento das águas do oceano pacífico, próximo ao Equador. Ele altera a circulação dos ventos no Brasil e muda o regime de chuvas no Sul e Sudeste. O clima nessas regiões, que seria naturalmente menos chuvoso passa a ficar mais vulnerável.

Além do El Niño, há também um aquecimento acima do normal do Oceano Atlântico ao sul do continente. Essas águas mais quentes aquecem o ar úmido que ao se deslocar para o continente provoca mais chuva.

“Essas instabilidades ficam numa região que favorece o transporte dessa energia, dessas perturbações, dessas instabilidades para Região Sul do Brasil”, explica o meteorologista Giovanni Dolif.

Nesta época do ano, ventos fortes como os de 80 km/h que aconteceram em Santa Catarina, na segunda-feira, são comuns. As tempestades com rajadas fortes de vento começam a se formar quando uma massa de ar quente e úmido desce da região da Amazônia. Essa massa se choca com as frentes frias que vêm da Argentina. Nesse encontro formam-se temporais e ventos. Quanto maior a diferença de temperatura entre as duas massas, mais intensidade.

“Nas próximas duas, três semanas ainda tem previsão de volta de chuvas mais fortes tanto no Sul como no Sudeste do Brasil”, alerta o meteorologista.