As exportações de soja do Brasil em março superaram 3 milhões de toneladas, tendo um crescimento de 16,6 por cento em relação ao mesmo mês do ano passado, e devem permanecer elevadas pelo menos nos próximos dois meses apesar dos preços considerados baixos pelos agricultores, que tentam postergar ao máximo a negociação da commodity, disseram analistas.

Os embarques de março, no primeiro mês do ano de volumes exportados mais expressivos, em meio ao avanço da colheita, são referentes a negócios feitos antecipadamente desde o final do ano passado.

E as exportações de abril e maio também deverão crescer com base em transações realizadas nos últimos meses, diante da necessidade de produtores de negociar o grão para pagar contas e pela carência de silos, numa temporada em que o Brasil colhe uma safra recorde, segundo o analista do Cepea, Lucílio Alves.

“Tivemos uma antecipação de colheita… Produtores estão até alugando ginásio de esporte para armazenar grãos”, disse Alves, citando um caso ocorrido em São João, no sudoeste do Paraná.

“Isso sinaliza a dificuldade de estocar diante de um grande volume de produção. As produtividades foram altíssimas”, acrescentou ele, lembrando que isso resultou até em um descolamento de preços do mercado interno em relação à bolsa de Chicago, cujos valores seguem acima de 9 dólares por bushel.

O Paraná, segundo produtor nacional, colhe uma safra recorde de quase 14 milhões de toneladas –mais de 80 por cento das lavouras paranaenses já foram colhidas, segundo o governo estadual. Já o Brasil deve produzir em 2009/10 cerca de 68 milhões de toneladas, aproximadamente 11 milhões a mais do que em 2008/09.

No mercado doméstico, segundo Indicador Cepea/Esalq (base Paraná), os preços estão em torno de 33 reais por saca, contra 45 reais na mesma época do ano passado. Além da safra recorde, o câmbio este ano, atualmente em torno de 1,75 real, tem sido um fator negativo para a formação dos preços.

Os prêmios de exportação, apesar de ainda estarem positivos (18/16 centavos de dólar em Paranaguá), estão mais curtos do que em meses anteriores, gerando incertezas para alguns se os volumes a serem embarcados nos próximos meses serão abundantes como foram em março.

De acordo com dados compilados da AgraFNP, o total exportado de soja em março foi recorde para o mês, assim como o total de farelo.

“Os relatórios de line-up portuário no Brasil continuam apresentando elevadas programações de embarques tanto do grão como do farelo. Resta saber, contudo, se este ritmo se manterá nos meses de maio e junho”, afirmou a consultoria em relatório.

Para o analista do Cepea, se o produtor conseguir atravessar o mês de abril sem realizar muitos negócios em condições que considera desfavoráveis, ele conseguirá vender aos poucos a sua produção, o que poderá ter impacto nas exportações.

Alves lembra que abril é um mês com vencimento de parcelas de dívidas de insumos, o que pode levar produtores a vender parte da produção para realizar pagamentos.

De qualquer forma, o mercado espera que o Brasil realize grandes embarques mensais este ano, considerando que as exportações da temporada devem bater recordes, ficando próximas de 30 milhões de toneladas.

Ainda mais considerando que as vendas externas começaram ligeiramente mais lentas em relação ao ano passado, somando 3,8 milhões de toneladas.

“Nesta safra, a produção é maior e os preços estão menores. A comercialização, por conta disso, deve ocorrer de forma mais lenta ao longo do ano”, destacou o gerente técnico e econômico da Ocepar (Organização das Cooperativas do Paraná), Flávio Turra, lembrando dos embarques de 2009 mais concentrados.

“Com o preço baixo, o produtor está segurando. Ele está com o preço do ano passado na cabeça… Passando o pico da colheita, ele vê a possibilidade de uma melhora de preços.”