A combinação de farto acesso a capital internacional por grandes empresas domésticas, crescente interesse de estrangeiros pelo Brasil e consolidação em vários setores da economia fez o mercado de fusões e aquisições no país apresentar forte crescimento no acumulado deste ano até setembro.

Segundo levantamento da Thomson Reuters, o giro financeiro de operações envolvendo companhias brasileiras anunciadas nos nove primeiros meses de 2010 totalizou 88,8 bilhões de dólares, um salto de 81,9 por cento em relação ao registrado em igual período de 2009.

Entre os mercados emergentes, o Brasil ficou em posição de destaque ao lado de China e México. As fusões e aquisições anunciadas em países em desenvolvimento totalizaram 480,7 bilhões de dólares de janeiro a setembro, aumento de 63 por cento contra um ano antes. A cifra representa mais de um quarto das operações globais do período.

Para especialistas, o movimento reflete um cenário positivo, incluindo a perspectiva de crescimento da economia brasileira acima da média internacional por vários anos e o movimento de consolidação em vários setores, como varejo, petróleo e gás e açúcar e álcool.

“Está todo mundo voltando os canhões para o Brasil”, disse Marco Gonçalves, chefe da área de Mergers & Aquisitions (M&A) do BTG Pactual, líder no ranking de instituições financeiras coordenadoras de fusões envolvendo empresas brasileiras no ano.

De um lado, o país é uma das poucas alternativas para grandes empresas globais para continuar expandindo suas atividades, já que a perspectiva para economias desenvolvidas é de baixo crescimento por um período prolongado.

É o que explicaria, por exemplo, a compra da fatia na operadora móvel Vivo que pertencia à Portugal Telecom pela espanhola Telefónica, a anunciada Oferta Pública de Aquisição (OPA) das ações preferenciais da empresa de TV por assinatura Net pela Embratel (do grupo mexicano América Móvil) ou ainda as seguidas compras feitas por fundos de private equity.

Na semana passada, o Blackstone, um dos maiores gestores de fundos de private equity do mundo, anunciou a compra de 40 por cento da brasileira Pátria Investimentos.

“Todos querem ficar posicionados no Brasil”, disse o vice-presidente e chefe da área de banco de investimentos do Itaú BBA, Jean-Marc Etlin.

Segundo os executivos, o interesse dos estrangeiros se mantém, mesmo com o real valorizado frente ao dólar, o que encarece os ativos brasileiros no exterior. “O que eles estão comprando é crescimento da economia”, disse Gonçalves, do BTG Pactual.

Em todo o mundo, a atividade de fusões e aquisições totalizou 1,75 trilhão de dólares nos nove meses iniciais de 2010, alta de 21 por cento contra um ano antes. A quantidade de operações cresceu 3,8 por cento, para 29 mil transações.

Considerando apenas o intervalo de julho a setembro, as fusões e aquisições no mundo avançaram 21 por cento contra um ano antes, para 676,9 bilhões de dólares, trimestre mais forte desde os mesmos três meses em 2008, quando a quebra do Lehman Brothers desencadeou uma crise global.