Quatro dias após ser atingido pelo pior terremoto de sua história recente, o território japonês continua sendo sacudido por sucessivos tremores de terra. Só nas primeiras horas de hoje (14), o site da agência norte-americana de pesquisa geológica (do inglês USGS) registrou 17 ocorrências acima de 5 graus de magnitude. O maior deles, por volta das 16h local (madrugada no Brasil), atingiu 6,1 graus na escala Richter.

Entre a última sexta-feira (11) – quando um terremoto de 9 graus seguido de um tsunami deixou milhares de desaparecidos, um número ainda incerto de mortos e danificou uma usina nuclear – e esta manhã, já foram registrados 249 tremores de mais de 5 graus de magnitude. A maioria deles (118) na própria sexta-feira. Em comparação, na véspera da tragédia, houve apenas cinco ocorrências. A lista é muito maior quando considerados os tremores de menor intensidade.

Segundo o chefe do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UNB), Lucas Vieira Barros, um tremor de magnitude 5 é algo moderado, mas que, dependendo da localização de seu epicentro, pode produzir graves danos. Ainda segundo Barros, os chamados abalos secundários, ou réplicas, são esperados e devem diminuir aos poucos já que as placas rochosas que formam a crosta terrestre – e cujo deslocamento provoca os tremores – tende a se acomodar em um novo ponto de equilíbrio. De acordo Barros, isso reduz as chances de que um novo tremor de igual intensidade ocorra nos próximos dias.

“Esses abalos são resultado da acomodação das placas tectônicas que continuam deslizando. Quando a placa se quebra para se acomodar é liberada energia na forma de um novo tremor, cuja intensidade tende a diminuir com o tempo, embora seja impossível dizer quanto tempo isso ainda vai acontecer. O sismo do Chile [no início de 2010] continua produzindo réplicas”, explicou Barros à Agência Brasil.

De acordo com Barros, as réplicas, em tese, podem atingir uma magnitude até 1,2 grau menor que o sismo principal. Portanto, segundo ele, no Japão seria possível a ocorrência de um novo terremoto de até 7,6 graus de magnitude, “embora isso seja pouco provável”, pondera Barros. “Dificilmente isso vai acontecer no mesmo local porque as forças que poderiam liberar a energia necessária para que isso ocorra já foram liberadas. Se um outro magnitude semelhante vier a acontecer será em outro local.”

O técnico do Grupo de Sismologia da Universidade de São Paulo (IAG-USP), José Roberto Barbosa, também considera difícil o Japão voltar a ser atingido por um terremoto de igual ou maior magnitude, mas previne que não é possível prever como a natureza irá se comportar. “Dificilmente acontecerá um terremoto maior que este de sexta-feira. E, se acontecer, ele deixará de ser uma réplica para se tornar o tremor principal, enquanto o de sexta-feira passará a ser visto como um terremoto premonitor”, explicou Barros, lembrando que na quarta-feira (9) da semana passada já havia ocorrido um terremoto de 7,2 graus próximo à costa japonesa.

“No Japão, terremotos acontecem o tempo todo. Nos dias que antecederam o que causou toda esta destruição ocorreram uma série de tremores que eles entenderam como natural. Este mesmo de 7,2 assustou as pessoas, mas como não causou nenhum problema, foi interpretado como mais um tremor forte. Ninguém podia imaginar que dois dias depois fosse acontecer um terremoto cem vezes mais potente”, disse Barbosa.